Faltavam apenas vinte dias para o encerramento da intervenção federal no Rio de Janeiro quando uma cena emblemática, tristemente corriqueira, mostrou que a medida não chegou nem perto de atenuar a violência no estado. Era esse o objetivo da destituição, em fevereiro, do então secretário de Segurança Pública, Roberto Sá, e sua substituição pelo general Walter Souza Braga Netto, comandante Militar do Leste, nomeado interventor. A promessa era a de entregar o Rio no dia 31 de dezembro ao novo governador com os serviços de segurança mais bem estruturados e os índices menores do que os encontrados no início do ano. Um ataque de bandidos contra o motorista de um carro, na noite da terça-feira 11, evidenciou a distância entre a canetada que determinou a intervenção e a realidade. Durante um minuto e 22 segundos, o jovem, de 27 anos, ficou com seu veículo encurralado, sob tiros, alguns de fuzis. Por sorte, foi ferido apenas no braço e conseguiu socorro.

Em todos os aspectos, a medida tomada pelo presidente Michel Temer foi inócua. Apenas dois tipos de crimes – latrocínio e homicídio doloso – tiveram queda em 2018 em comparação ao ano passado. No caso do primeiro, a diminuição foi de 30%. No segundo, 5%. A meta de tirar o poder bélico dos traficantes não foi atingida, como ficou claro no assalto de terça-feira, e a estruturação de um serviço de inteligência eficaz deixou a desejar. Somente na quinta-feira 13, nove meses depois do assassinato da ex-vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, a polícia realizou uma operação de cumprimento de mandados de prisão e de apreensão relacionados ao caso.

A sensação de mal-estar manteve-se entre a população. Até porque, ao longo do ano, foram diversas as denúncias contra militares que participaram das ações. “No dia 20 de junho, houve uma operação no Complexo da Maré na qual morreram sete pessoas. Policias civis e militares contaram com a cobertura do exército nisso”, afirma Lidiane Malanquini, coordenadora da ong Rede das Mares. Uma das mortes que mais comoveram foi a do garoto Marcos Vinicius da Silva, 14 anos. “A intervenção só gerou desgraça. A policia mirou e matou meu filho, vestido com uniforme da escola”, diz Bruna da Silva, 37 anos, mãe do menino.

Ações pontuais para enfrentar quadros complexos como a violência no Rio de Janeiro nunca dão certo. O mesmo fim deverá ter a intervenção federal em Roraima, iniciada na segunda-feira 10. Lá, como no Rio, há uma mistura de falta de dinheiro (nessa semana foram pagos os salários de outubro dos servidores da segurança, que haviam entrado em greve) e violência, tudo agravado pela entrada de milhares de venezuelanos que fogem da fome em seu país. “Situações assim não se resolvem em um estalar de dedos”, afirma Sandro Cabral, coordenador do mestrado de Políticas Públicas do Insper, em São Paulo. “Elas são resultado de problemas estruturais, que exigem enfrentamento amplo e contínuo.” Outros seis estados e mais o Distrito Federal encontram-se na mesma situação de Roraima, sem caixa para fechar o ano. Isso exige mais do que intervenção. Exige o cumprimento da lei de Responsabilidade Fiscal, algo que o Congresso acaba de jogar para o alto ao permitir que os municípios ultrapassem o limite de gastos com despesa de pessoal sem sofrer punições.

Outros seis estados, mais o Distrito Federal, encontram-se sem
caixa para fechar o ano. Medidas pontuais não resolverão o problema

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