Abraji condena ‘ataque virtual’ de Eduardo Bolsonaro ao jornalista Guilherme Amado

Saul Loeb/AFP
Eduardo Bolsonaro discursa em conferência de conservadores nos EUA Foto: Saul Loeb/AFP

Em nota publicada nesta segunda-feira, dia 17, a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) condena a ameaça do deputado federal Eduardo Bolsonaro contra o jornalista Guilherme Amado, colunista do PlatôBR. O motivo da manifestação do parlamentar é a reportagem “Enquanto Congresso discute emendas, Eduardo Bolsonaro faz live de Washington”, produzida para a coluna de Amado.

Nos EUA desde 27 de fevereiro, o deputado está em sua quarta visita ao país em 2025. Tem participado de encontros com políticos conservadores e feito articulações contra a prisão do seu pai, Jair Bolsonaro, e para conseguir apoio para sanções contra o ministro do STF Alexandre de Moraes.

“Esse é um truque retórico velho, Guilherme Amado. Você está se borrando de medo do trabalho que estou fazendo aqui… Estive na Casa Branca, sua matéria da inserção falsa da entrada do Filipe Martins foi um dos assuntos, você tem razão de ficar com medo”, escreveu Bolsonaro em postagem nas redes sociais.

A Abraji saiu em defesa do colunista e acusa o deputado de espalhar fake news: “Eduardo Bolsonaro divulga a falsa informação de que a reportagem de Guilherme Amado seria responsável pela prisão de Martins. No entanto, a decisão do ministro Alexandre de Moraes de decretar a prisão se baseia em um relatório da Polícia Federal”, diz a nota.

A entidade afirma também que Eduardo Bolsonaro tenta descredibilizar o trabalho de jornalistas profissionais. Para isso, recorre a ataques virtuais e campanhas de desinformação. O objetivo, segundo a Abraji, é mobilizar apoiadores contra o jornalista e tentar silenciá-lo.

“As ameaças e as intimidações configuram uma grave violação da liberdade de imprensa — premissa que deve ser respeitada por todos e é uma obrigação constitucional dos agentes públicos”, conclui a Abraji.

A íntegra da nota da Abraji

A Abraji condena o ataque virtual do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) contra o jornalista Guilherme Amado. O parlamentar usou suas redes sociais para atacar e ameaçar o profissional, afirmando que citou Amado em uma reunião que teve na Casa Branca, nos Estados Unidos. A postagem foi uma resposta a uma matéria publicada na coluna de Amado no Platô BR que relata a live realizada pelo parlamentar em Washington, enquanto era realizada uma sessão plenária do Congresso Nacional.

A intimidação faz referência a uma campanha de desinformação mobilizada pelo deputado Bolsonaro junto a outros parceiros políticos, alegando falsamente que Amado teria causado a prisão de Filipe Martins, ex-assessor de Jair Bolsonaro. A postagem indica que esta acusação de armação contra Martins foi apresentada em reunião com membros do partido Republicano, nos Estados Unidos.

O jornalista publicou, em outubro de 2023, a informação obtida por consulta pública de documento da imigração nos Estados Unidos, que registrava a entrada de Filipe Martins no país em 30 de dezembro de 2022. Investigado pela Polícia Federal, Martins foi preso em uma operação da PF e posteriormente solto, porque a defesa demonstrou que ele estava no Brasil naquele período e que o documento da imigração estaria errado. A reportagem da coluna de Amado foi atualizada com uma correção que deixa claro que havia um registro de sua viagem ao Brasil, mas não da confirmação da realização da viagem. 

Assim como seus seguidores, Eduardo Bolsonaro divulga a falsa informação de que a reportagem de Guilherme Amado seria responsável pela prisão de Martins. No entanto, a decisão do ministro Alexandre de Moraes de decretar a prisão do ex-assessor de Bolsonaro não se baseia na reportagem, mas em um relatório da Polícia Federal.

A Abraji repudia a atitude de Eduardo Bolsonaro que sistematicamente tenta descredibilizar o trabalho de jornalistas por meio de ameaças, ataques virtuais e campanhas de desinformação. A publicação tem o intuito de mobilizar seus apoiadores contra o jornalista e, assim, tentar silenciar o seu trabalho, justamente quando este mostra contradições de sua atuação como parlamentar. 

Os parlamentares, pelo exercício de um cargo eletivo, devem suportar o escrutínio público de suas atividades, considerando o impacto que geram no orçamento e na vida pública. As ameaças e as intimidações configuram uma grave violação da liberdade de imprensa — premissa que deve ser respeitada por todos e é uma obrigação constitucional dos agentes públicos.