Com quinhentos anos de atraso Portugal publicou os pedidos oficiais de desculpas pelo terrível crime de lesa humanidade perpetrado contra os negros por conta da sua escravização. O presidente Marcelo Rebelo de Sousa, todavia, foi além ao reconhecer que o país tem a obrigação e o dever de reparar todos os danos produzidos pela injusta, monstruosa e desumana servidão.

Tamanha honestidade e correção moral de reconhecer um erro e pedir desculpa por ele e se prontificar a indenizar os prejuízos produzidos deve ser celebrada como ato de grandeza e deve também servir de paradigma para todos os demais países que tanto quanto Portugal, direta ou indiretamente, escravizaram ou retiraram fruto da escravidão dos negros.

No Brasil, país que recebeu e escravizou mais de 4 milhões de negros e último a abolir a escravatura de mais de trezentos e cinquenta anos, ninguém até agora deu um pio apesar da riqueza do estado e das elites do passado e do presente ter sido construída e depois ampliada sobre a base escravocrata. Por isso, o Inquérito civil que denuncia os benefícios auferidos pelo Banco do Brasil como Escravidão pode ser uma porta de entrada oportuna e apropriada para discutir e mesmo solucionar a questão como propõe e dá o pontapé inicial o governo português.

Foi prioritariamente pela hoje respeitável corporação que se irrigaram os financiamentos, empréstimos e garantias para as viagens transatlânticas e para compra e venda dos escravizados nas hastas públicas, e foi a ela também que se vincularam como garantias os escravos negros, na moeda de troca. Dos portentosos lucros realizados ganharam o banco e seus acionistas, e ganhou o governo seu proprietário.

A rica indústria de que tantos se locupletaram teve como pressuposto a prática do racismo que reduzia os corpos negros à coisa pela imputação da sua inferioridade decorrente da cor e raça, que, na letra da lei trata-se de crime imprescritível. Se crime houve, e, logo o enriquecimento é ilícito, além da responsabilização penal resta inexorável a devida reparação e indenização legal.

Nesse 13 de Maio que marca os 126 anos da abolição num País onde os negros respondem pela maioria da população e se encontram invisíveis e alijados social e economicamente da Nação, a presidenta do Banco do Brasil e o presidente do Brasil, dono do Banco do Brasil, poderem tomar para si a honestidade, franqueza, correção do governo português e, além das devidas desculpas, dar um primeiro grandioso passo para iniciar o processo de reparação dos erros do passado e indenizar o vilipendioso crime da escravidão. Se Portugal poderá fazer, o Brasil pode muito mais. Além de pagar a dívida, de quebra Banco do Brasil e o Brasil podem lustrar a história e a reputação corporativa.