O boxeador brasileiro Abner Teixeira garantiu nesta sexta-feira (30) uma medalha olímpica em Tóquio, dando visibilidade a um esporte que no Brasil desperta menos paixão do que o UFC, e deixando-o mais perto de realizar seu “sonho”: dar de presente uma casa para sua mãe.

O pugilista nascido em Osasco (região metropolitana de São Paulo), de 24 anos, venceu em um duro combate por decisão dividida (4-1) dos árbitros o jordaniano Eishaish Iashaish, nas quartas-de-final dos pesos-pesados.

Desta forma, garantiu ao menos uma das duas medalhas de bronze que serão entregues aos semifinalistas. Sua eventual classificação para a final será decidida na próxima terça-feira.

Bronze, prata ou ouro, sua medalha será a quinta do Brasil (e a quarta masculina) no boxe, depois do bronze do peso-mosca Servilio de Oliveira (até 51 kg) no México-1986 e a prata de Esquiva Falcão nos pesos-médios (até 75 kg), além do bronze do irmão deste, Yamaguchi Falcão em Londres-2012, onde Adriana Araújo também conquistou um bronze nos pesos-leves (até 60 kg).

“Esta medalha é importante, mas não vai mudar minha vida. Ela vai me ajudar a abrir portas, mas tenho de continuar firme em busca dos meus objetivos. Ainda tenho que fazer aqui em Tóquio e depois que voltar para o Brasil preciso melhorar, disputar talvez dois Mundiais e obter vitórias”, disse Teixeira nesta sexta-feira após derrotar o jordaniano em uma das melhores lutas das Olimpíadas de Tóquio-2020.

Um projeto acalentado com cuidado por este homem que caminhava 6 km por dia para treinar por falta de dinheiro para a passagem.

Sua carreira começou aos 14 anos com o programa social “Boxe-Mãos para o futuro”, destinado a crianças pobres, dirigido por seu atual treinador, Vladimir Godoi, em Sorocaba (a 80 km de São Paulo), para onde sua família tinha se mudado em 2011.

– No ringue “por curiosidade” –

“Comecei a treinar por curiosidade, era meio sedentário e não fazia muita coisa. Queria fazer alguma coisa para me mexer e comecei a fazer boxe. Participei de uma peneira que teve em uma academia aqui de Sorocaba, mais de 70 atletas estavam nesta peneira, que foi descobrindo vários talentos”, explicou recentemente em entrevista ao portal Globoesporte.

Seu físico imponente (ele mede 1,93 m) e seus golpes precisos impressionaram rapidamente.

Em 2013, consagrou-se campeão juvenil brasileiro, título que manteve em 2014. Em 2015 e 2016 foi campeão brasileiro de elite e ouro no torneio sul-sudeste do país. A Confederação Brasileira de Boxe o integrou à seleção nacional.

Em 2019, foi bronze nos Jogos Pan-americanos de Lima e desde então concentrou-se na conquista da medalha olímpica.

Se conquistar o ouro agora, prometeu comprar uma casa para sua mãe, Isabela.

“Ainda não conquistei esse sonho. Estou trabalhando para isso. Ela nunca teve uma casa própria e quero dar essa alegria para ela”.

Enquanto a carreira de Teixeira vai de vento em popa, o projeto no qual deu seus primeiros golpes agoniza.

Sem apoio financeiro, o “Boxe-Mãos para o futuro”, que chegou a ter mais de 700 jovens treinando, está parado e atente apenas alguns boxeadores prestes a iniciar uma carreira profissional.

Uma medalha olímpica para Teixeira poderia ajudar a resgatá-lo.

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