Quando estava em campanha para se tornar ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux bateu em diversos gabinetes do PT, então no poder. Ocorria o julgamento do mensalão. Nessas visitas, Fux usou uma expressão: “Mato no peito”. Muitos petistas julgaram que acenava com a hipótese de absolvê-los, o que não se verificou. Na quinta-feira 17, no entanto, menos de três semanas depois da posse de Jair Bolsonaro, de posição política oposta, Luiz Fux resolveu de fato “matar no peito”. Em decisão liminar, a pedido do senador eleito e deputado Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), ele suspendeu a investigação que vinha sendo feita sobre as inexplicadas movimentações financeiras de seu ex-motorista Fabrício Queiroz. A decisão é liminar e provisória. E deverá mais tarde ser confirmada ou não pelo ministro Marco Aurélio Mello, relator do caso, quando terminar o recesso do Judiciário. O problema é que, entre um momento e outro, Flávio Bolsonaro já não será mais será deputado estadual e assumirá a vaga de senador, passando a gozar do foro privilegiado. A canetada de Fux, assim, jogará a investigação para o Supremo, onde, se sabe, as punições são raríssimas.

Com a ajuda de Luiz Fux, os Bolsonaro parecem dar uma demonstração eloquente da dificuldade de explicar em que negócios Fabrício Queiroz estava metido e que participação eles eventualmente têm nisso. Alegando problemas de saúde, o motorista ainda não explicou na Justiça a origem de R$ 1,2 milhão depositados em sua conta e de onde, inclusive, saíram R$ 24 mil que foram parar na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Com o recesso do Judiciário, Fux é o ministro de plantão durante esta semana. Flávio Bolsonaro pediu a suspensão do julgamento e a anulação das provas. O processo corre em segredo de Justiça. Os detalhes não são conhecidos. Fux aceitou a suspensão, deixando a palavra final a Marco Aurélio. Flávio é parte da investigação, junto com Fabrício. É provável que Marco Aurélio determine que o foro passe efetivamente para o STF. Mas aí o filho do presidente já terá adquirido a condição do foro privilegiado como senador. No mínimo, passa a correr em uma instância onde os processos andam lentamente. A defesa de Flávio Bolsonaro alegou que ele, como já estava diplomado senador, já teria o foro especial garantido, mesmo ainda não tendo tomado posse. Disse ainda que a divulgação de informações do Conselho de Administração Financeira (Coaf) sem a quebra do sigilo bancário gerou constrangimento a ele pela divulgação de informações privadas.

Fux suspendeu investigação contra Queiroz até que o ministro Marco Aurélio decida em que foro o caso deve prosseguir (Crédito:Divulgação)

Essa é mais uma derrota imposta ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ). O MP fluminense tentou, sem êxito, ouvir os envolvidos sobre o relatório do Coaf inúmeras vezes, mas Fabrício alegou estar em tratamento médico para se recusar a comparecer aos depoimentos. Um dos intimados a depor foi também o próprio senador eleito. Flávio pediu cópia da investigação e, nas redes sociais, se comprometeu a agendar novo dia e horário para prestar os esclarecimentos necessários para o andamento do processo. Em entrevista ao jornal do SBT, no entanto, Queiroz disse que parte da movimentação atípica veio da compra e venda de automóveis e negou ser laranja de Flávio Bolsonaro. Mas a Justiça acredita que o dinheiro vinha de uma espécie de caixinha de funcionários que trabalhavam no gabinete de Flávio Bolsonaro. Agora, o caso pode ficar para as calendas.


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