Não é só nos momentos ruins em que Abel Ferreira fala das mazelas do futebol brasileiro. O português estava contente, claro, após ver o Palmeiras fazer 3 a 0 no clássico contra o Corinthians, mas não apenas elogiou o desempenho de seu time na entrevista coletiva. Quis expor mais uma vez o seu inconformismo com o insano calendário que desgasta treinadores e, sobretudo, jogadores.

O técnico novamente chamou a atenção para a necessidade de haver intervalos maiores entre as partidas. Ele salientou que os atletas sentem muito o esgotamento físico e mental, tanto nas vitórias quanto nas derrotas, e voltou a dizer que a sua saúde está afetada pela rotina de trabalho tão desarrazoada no Brasil.

“Eu já disse que não temos tempo para treinar, temos tempo para recuperar. Minha saúde está completamente alterada, tenho de ter muito cuidado porque a parte física e mental é determinante. Aqui é insano para os jogadores, para os treinadores”, apontou. Ele repetiu que o calendário apertado, com partidas a cada três dias, atrapalha os técnicos. Os comandantes não têm, muitas vezes, tempo para fazer com que os jogadores entendam suas ideias.

“Eu nunca disse isso, mas quero dar parabéns aos treinadores brasileiros porque é muito difícil jogar esse campeonato, pela insanidade. Não dão tempo para que o treinador brasileiro possa impor suas ideias”, esbravejou. “Felizmente, e às custas dos meus jogadores, fui ganhando e me mantendo. Da forma como o calendário está feito é impossível ver a qualidade dos treinadores”.

O atropelo sobre o arquirrival foi motivo de elogios do comandante, satisfeito com o que viu em campo, principalmente com o repertório ofensivo. “Nós temos três rotas de ataque. Ou vamos por dentro, ou por fora ou em profundidade. Hoje fomos de todas as maneiras. Fizemos um jogo muito bom, criamos oportunidades, fizemos três e poderíamos ter feito mais”.

CONTRÁRIO AO ‘OLÉ’

Abel se incomodou com os tradicionais gritos de “olé” que a torcida palmeirense usou para provocar o Corinthians quando o placar já marcava 3 a 0 em Barueri. Ele entende que a expressão, originada nas touradas espanholas, desrespeita o rival e atrapalha o espetáculo.

“Para mim o ‘olé’ é falta de respeito com o adversário. Nós precisamos de todos os adversários. Quanto melhor for nosso adversário mais vamos encher o estádio”, considerou.

“Se queremos o futebol e grandes espetáculos é com grandes equipes. Se puder o Grêmio subir, o Cruzeiro subir, o Vasco da Gama subir… É melhor para o futebol brasileiro, para o jogador brasileiro, para o espetáculo. Isso que eu quero e penso, respeito quem pensa diferente de mim”, completou.