Em novembro, quando o argentino Eduardo Coudet decidiu deixar o comando técnico do Internacional para treinar o Celta de Vigo, o clube gaúcho era líder do Brasileirão, estava classificado para as oitavas de final da Libertadores e às quartas da Copa do Brasil. Sem muito tempo para pensar, a direção colorada decidiu apostar em uma receita que fez sucesso na década passada: chamou Abel Braga, técnico que levou o Inter à conquista de sua primeira Libertadores e Mundial. O treinador, contudo, vinha de trabalhos ruins no Cruzeiro e no Vasco e chegou debaixo de muita desconfiança. E a primeira amostra no Rio Grande do Sul foi ruim: eliminado de cara das Copas e saída do G-4 do Brasileirão. Dois meses depois, contudo, tudo mudou. Nesta quarta-feira, o Inter de Abelão pode retomar a liderança do campeonato diante do São Paulo e se tornar um dos favoritos ao título.

Apesar do discurso oficial da antiga direção do Inter ser de que a saída de Coudet partira de uma decisão do argentino de querer treinar um clube europeu, quem acompanha a equipe gaúcha sabe que o técnico estava insatisfeito. As reclamações de “elenco curto” eram frequentes. A queixa de Coudet estava no fato de que o time disputava três competições simultâneas, perdera titulares importantes – Paolo Guerrero, Saravia e Boschilia sofreram ligações de ligamento – e as reposições não vieram. Em meio à pandemia, que agravou a situação financeira do Inter, a diretoria fincou pé e pediu que Coudet trabalhasse com os jogadores que tinha. Ele, então, decidiu ir embora.

A direção, então, levou menos de 24 horas para anunciar Abel Braga. Àquela altura, o técnico despertava reações distintas entre os torcedores. Ainda que a maioria tivesse um enorme sentimento de gratidão pelos títulos e pelas demonstrações de afeto do técnico – que em mais de uma vez se declarou torcedor colorado -, muitos consideravam que ele estava ultrapassado.

Abel, porém, tratou de trabalhar. “Não quero conflito, mas acho que temos um número legal de jogadores”, disse à época. É verdade que as eliminações na Copa do Brasil para o América-MG, e na Libertadores para o Boca Jrs., deram uma folga no calendário e fizeram com que o eventual “elenco curto” virasse um elenco suficiente. Mas Abelão foi além, e deu espaço a jogadores que antes eram usados por Coudet apenas em casos de necessidade.

Praxedes é um deles. O meia de 18 anos foi um dos melhores na vitória do domingo diante do Fortaleza. Caio Vidal é outro. O atacante de 20 anos foi lançado por Abel e, há doze dias, fez seu primeiro gol no time principal do Inter. Ele ainda foi o destaque no triunfo sobre o Ceará.

Outro jovem que ganhou espaço com Abel e está retribuindo – e muito bem – é o atacante Yuri Alberto. Trazido do Santos, o jogador de 19 anos era apenas opção eventual para Eduardo Coudet. Agora, desbancou os estrangeiros do grupo e, ainda que às vezes não seja titular, é sempre acionado. Tem sete gols no Brasileirão e, com Abel, virou vice-artilheiro do time. Yuri Alberto é mais um que segue o mantra do técnico: “Se tiver melhor que um veterano cascudo, vai jogar e ser titular”, afirmou o treinador sobre a opção de escolher atletas menos experientes.

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ESTILO – Além de dar espaço aos “guris da base”, Abel Braga, claro, impôs seu estilo de jogo. E ele é bem distinto daquele que era usado pelo antecessor argentino.

Com Coudet, o Inter priorizava a marcação alta e a posse de bola. Em quase todas as partidas o time gaúcho saía com maior tempo de jogo – exceções vistas nos duelos diante do Atlético e do Flamengo, no Beira-Rio. O argentino também cobrava muita intensidade dos jogadores, o que invariavelmente fazia o time perder fôlego nos minutos finais. Às vezes, isso custou pontos importantes.

Abel, por sua vez, não parece se preocupar com a posse de bola. O time sob o seu comando raramente termina vencedor nesse quesito – mas tem sido vencedor ao final dos 90 minutos, a única coisa que importa num campeonato por pontos corridos.

Ao entrar em campo contra o São Paulo no Morumbi nesta quarta-feira, o Inter de Abel tentará manter a série invicta que já soma oito partidas. Mais do que isso, o time vem de seis vitórias seguidas e, se vencer novamente, assumirá a liderança do Brasileirão. E, se isso acontecer, o técnico responsável pelas maiores conquistas da história do time gaúcho poderá colocar o clube, definitivamente, no caminho de mais uma delas.


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