Presidente por quase 17 anos do Conselho da Nação, o Senado argelino, Abdelkader Bensalah é puro produto do regime.
Nascido em 24 de novembro de 1941, na região de Tlemcen, perto da fronteira com o Marrocos, ele é leal ao seu antecessor, Abdelaziz Buteflika, que teve que renunciar após semanas de maciços protestos.
Cacique do regime dominado pela Frente de Libertação Nacional (FLN) desde a independência da França em 1962, Bensalah preside o Conselho da Nação desde 2002, três anos após o início da presidência de Bouteflika.
Este político de 77 anos, estatura mediana, rosto redondo e cabelos brancos, muitas vezes representou Bouteflika, longe da cena pública desde 2013, quando sofreu um derrame. Ele chefiou, por exemplo, a delegação da Argélia na cúpula da Liga Árabe, em Túnis, em 31 de março.
Deputado, embaixador, alto funcionário ministerial, senador: Bensalah ocupou vários cargos e presidiu as duas câmaras do Parlamento, mas nunca foi ministro.
– Jornalista e embaixador –
Um funcionário próximo do Conselho da Nação o descreve como um homem geralmente alegre, embora às vezes possa ser muito severo.
Apesar de não ser um grande orador, é um bom servidor do sistema, de acordo com um político que trabalhou com ele e que atribui à sua grande discrição a longa permanência nos círculos de poder.
“Ser útil nos momentos certos é o que ele sabe fazer. Raramente se expressa em questões relacionadas à administração de assuntos do Estado”, escreveu sobre Bensalah o jornal El Watan em 2015.
Abdelkader Bensalah ainda não tinha 18 anos quando ingressou no Exército de Libertação Nacional (ELN), que desde 1954 lutava contra as forças coloniais francesas.
Com independência, em 1962, ele foi estudar Direito em Damasco com uma bolsa de estudos. Em seu retorno à Argélia, em 1967, ele começou a trabalhar na redação do jornal árabe El Chaab, em uma época em que o Estado detinha o monopólio dos meios de comunicação.
Depois de uma carreira na imprensa estatal, ele foi eleito deputado pela primeira vez em 1977 e reeleito duas vezes. Por 10 anos presidiu a Comissão de Relações Exteriores da Assembleia Popular Nacional (APN), a Câmara dos Deputados.
Depois de ter sido embaixador da Argélia na Arábia Saudita de 1989 a 1993, foi nomeado porta-voz do Ministério das Relações Exteriores.
Em 1994, ele foi escolhido para chefiar o Conselho Nacional de Transição, um Parlamento transitório estabelecido para suprir a ausência da assembleia após a interrupção das eleições legislativas de 1991-1992, vencidas pelos islâmicos da Frente Islâmica de Salvação (FIS).
– Presidente interino –
Quatro anos depois, a vitória da Associação Nacional para a Democracia, que ajudou a criar, o impulsionou para a presidência da Assembleia Popular Nacional.
Em 2002 foi nomeado pelo chefe de Estado para o Conselho da Nação, onde assumiu a presidência. Desde então, ele foi reeleito a cada três anos nesta posição, o que garante sua interinidade em caso de morte, renúncia ou “impedimento” do presidente devido a uma doença grave e duradoura.
Como aconteceu em 2013, quando Bouteflika foi admitido em Paris, nas últimas semanas surgiu uma controvérsia sobre suas origens.
Alguns críticos acusam-no de ter nascido no Marrocos e de ter se nacionalizado argelino nos anos 60, o que o impediria de cumprir as funções presidenciais, mesmo de forma interina. Bensalah sempre afirmou ser argelino de nascimento.
Agora ele ficará 90 dias à frente do Estado. Neste período, ele terá que organizar as eleições presidenciais em um país que vive protestos sem precedentes para exigir o fim do “sistema” ao qual ele dedicou seus últimos 40 anos.
“Saia, Bensalah!”, gritavam centenas de estudantes nas ruas de Argel nesta terça-feira.