O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, criticou nesta terça-feira (11), perante o Conselho de Segurança da ONU, o plano de paz entre israelenses e palestinos proposto pelos Estados Unidos, que é um “queijo suíço Gruyère” e não proporciona soberania ao povo palestino.

“Rejeitamos o plano israelense-palestino”, que “questiona os direitos legítimos dos palestinos”, disse Abbas, enquanto segurava um grande mapa da Palestina com as fronteiras definidas pelo plano de Washington.

“Gostaria de dizer ao sr. Donald Trump que este plano não pode conseguir a paz e a segurança”, porque “suprime todos os direitos dos palestinos. Não reúne as aspirações de uma solução de dois Estados”, declarou Abbas ao Conselho.

“Se a paz for imposta, não vai durar, não tem como durar”, acrescentou.

“O que lhes dá o direito de anexar estas terras?”, questionou, referindo-se às anexações feitas por Israel no vale do Jordão e em outras partes da Cisjordânia.

O plano faria da Palestina “um Estado fragmentado”, sem controle aéreo, nem marítimo. “Quem de vocês aceitaria um tal Estado?”, perguntou aos membros do Conselho, evocando uma situação de “apartheid”.

O texto não dá à Palestina soberania sobre seu espaço aéreo ou marítimo, entre outras limitações.

– Pressões dos EUA –

Em um sério revés, na segunda-feira os palestinos desistiram de submeter ao voto do Conselho uma resolução por falta de apoio internacional por falta de apoio internacional, afirmaram diplomatas.

Também desistiram de buscar apoio na Assembleia Geral, que está submetida a fortes pressões dos Estados Unidos para não aprovar o repúdio à sua proposta de paz.

Segundo um diplomata americano que pediu para ter a identidade preservada saudou a decisão.

“Ao não apresentar uma resolução nítida, o Conselho de Segurança demonstra que as velhas formas de agir estão obsoletas”, disse.

No domingo, os Estados Unidos e o Reino Unido apresentaram aos seus parceiros do Conselho de Segurança uma série de emendas ao texto, com o objetivo de remover qualquer crítica ao plano de paz americano apresentado por Donald Trump em 28 de janeiro.

Entre as alterações ao texto proposto por Washington, a menção a “dois Estados soberanos e democráticos” foi substituída por “dois Estados democráticos”.

O projeto mantém uma “solução de dois Estados” e propõe a criação de uma capital de um Estado palestino em Abu Dis, um subúrbio de Jerusalém, enquanto os palestinos querem transformar toda Jerusalém Oriental na capital de seu Estado.

Também inclui a anexação por Israel dos assentamentos israelenses, bem como do Vale do Jordão, na Cisjordânia, um território palestino ocupado desde 1967, com fronteiras rompendo as linhas traçadas na época, o que inclui o estratégico Vale do Jordão.

Além disso, propõe a criação de uma capital para um eventual Estado palestino em Abu Dis, subúrbio de Jerusalém. Os palestinos querem que toda a Jerusalém oriental seja a capital de seu Estado. O projeto prevê ainda um Estado palestino desmilitarizado alterando sua soberania.

“Estes são nossos territórios”, afirmou perante o Conselho de Segurança Mahmoud Abbas. “O que lhes dá o direito de anexá-los?”, perguntou aos israelenses, pedindo à “comunidade internacional que pressione Israel” para evitar essa perspectiva.

Para a embaixadora americana na ONU, Kelly Craft, o plano, que é acompanhado de um investimento de 50 bilhões de dólares, “é realista e pode ser posto em prática”.

Segundo Craft, não se trata de um “pegar ou largar”, mas de uma “oferta inicial” e chamou israelenses e palestinos ao diálogo.

“Minha esperança fervorosa é que quando se dissipar a fumaça da retórica, os líderes verão este plano como a oportunidade que representa, arregaçarão as mangas e aproveitarão a oportunidade para se sentar com os líderes israelenses e começar uma nova conversação”, disse.

Em uma declaração conjunta antes da reunião do Conselho de Segurança, os membros da União Europeia presentes neste órgão (Bélgica, França, Alemanha, Estônia, mais a Polônia) enfatizaram seu compromisso de alcançar uma solução de dois Estados, incluindo “um Estado único, independente, democrático, soberano e viável” para os palestinos.

Para os palestinos e muitos de seus apoiadores, o projeto americano é desequilibrado e favorável demais a Israel.

Mahmud Abbas reiterou que “os Estados Unidos não podem mais ser o único mediador” da paz no Oriente Médio. Ele pediu ao “Quarteto (Estados Unidos, Rússia, União Europeia e Nações Unidas) e aos membros do Conselho de Segurança que organizem uma conferência internacional de paz”, sem dar mais detalhes.

– Israel contra Abbas –

Para Danny Danon, embaixador israelense na ONU, a paz requer que os palestinos também troquem seus líderes.

“Só quando ele (Abbas) renunciar os palestinos e Israel poderão avançar”, disse Danon.

O secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Abul Gheit, se disse “estupefato” com a declaração do embaixador de Israel.

Embora o presidente palestino possa se vangloriar do apoio da Liga Árabe, da Organização de Cooperação Islâmica e da União Africana, as reações ao plano de paz americano foram, em sua maioria, moderadas.

No entanto, Abbas conseguiu nesta terça um apoio importante. O líder palestino reuniu-se em Nova York com o ex-primeiro-ministro israelense e antecessor de Netanyahu, Ehud Olmert (2006-2009).

“Abbas é um homem de paz, contrário ao terror e é o único sócio com quem podemos tratar”, afirmou, advertindo que qualquer saída para estas negociações precisam da participação do líder palestino.

Os países europeus não se mostraram unânimes e, no mundo árabe, vários Estados apoiaram a iniciativa de Washington, como Emirados Árabes, Omã ou Bahrein.