Quando comecei a trabalhar em jornais, em 1972, no auge da ditadura militar, a imprensa vivia sob forte repressão. Havia uma censura cruenta nos veículos de comunicação. Somente depois de 1975, com o assassinato brutal do jornalista Vladimir Herzog nos porões do DOI-CODI, a imprensa pode começar a noticiar as coisas da vida real. Afinal, logo veio a tal “abertura lenta e gradual” que o general Ernesto Geisel passou a pôr em prática. Nessa altura, a sociedade já se levantava contra os militares que mergulharam o País nas trevas. Desde 1964, mas com maior força a partir de 1968, com o advento do famigerado AI-5, a repressão à imprensa intensificou-se. Ler o Pasquim ou um livro qualquer de um escritor de esquerda era motivo para os jornalistas serem ameaçados com prisão. O AI-5 garantia o arbítrio imposto pelos militares. Foram tempos de terror, aos quais pensávamos que jamais retornaríamos.

Mas, acompanhando o andar da carruagem do governo Bolsonaro, voltamos a ficar com a sensação de que coisa semelhante pode voltar. Exemplo não faltam. Um novo AI-5, como pregam Eduardo Bolsonaro e Paulo Guedes. Uma lei para reprimir movimentos sociais proposta pelo presidente ao Congresso. A volta da Lei de Segurança Nacional para punir políticos que divirjam do governo. A censura econômica à imprensa, com o governo cancelando assinaturas de jornais que dele discordam ou cortando verbas publicitárias dos veículos independentes, como é o caso da ISTOÉ e de outros, que não se dobram aos seus ataques constantes à democracia. Bolsonaro e seu assecla Fábio Wajngarten asfixiam os veículos que não rezam por sua cartilha: só liberam verbas publicitárias aos que bajulam o governo.

Se dependesse exclusivamente do presidente, a ditadura certamente voltaria. A vantagem é que hoje o mundo é outro, os americanos já não têm interesse em golpes militares por aqui, como tiveram em 1964, a sociedade tem instituições fortes, a democracia brasileira está consolidada e Bolsonaro, seus filhos e seus apoiadores não triunfarão no caminho que gostariam de seguir. Afinal, o extremismo e as práticas antidemocráticas está levando seu grupo ao isolamento dentro da própria direita. Não fosse isso, o risco estaria amplificado neste momento. O fato é que, 55 anos depois de uma ditadura tenebrosa, não gostaríamos de ver ameaçada a democracia conquistada com a vida de cidadãos de bem. A esperança é que Bolsonaro e sua veia ditatorial sejam derrotados.

Se dependesse exclusivamente de Bolsonaro, a ditadura certamente voltaria. Foram tempos de terror que jamais retornarão


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