Ele tem boa pinta, parece um galã de filme noir, um investigador acima de qualquer suspeita. Mas é só abrir a boca para emitir uma espécie de grasnado estridente. Por isso, ele aposta mais em outdoors, cartazes ou fotos do que em pronunciamentos. Refiro-me ao ex-juiz e ministro da Justiça, Sergio Moro. Sua voz aguda provoca um anticlímax decepcionante. Esse fato inspirou os inimigos e opositores, que o apelidaram de “Marreco de Maringá”. Não importa quão legítimas sejam suas intenções ou projetos; o timbre desvia a atenção para seus defeitos.

A mesma característica afeta o presidente Jair Bolsonaro. Ele se exprime aos gritos, numa voz desafinada de cantor de karaokê. Agudos e engasgues se casam com palavrões, impropérios e declarações alucinadas. O efeito só poderia ser cômico. É natural dar risadas quando Bolsonaro fala, mesmo quando a narrativa contém altas quantidades de tragédia.

Ouçamos o polo oposto. Um certo ministro possui uma voz tonitruante de barítono quase wagneriano. Quando inicia a peroração, que pode durar horas, o tribunal se cala, entre o maravilhado e o respeitoso. Pode dizer abobrinhas ou mesmo mudar de assunto. Não importa: ei-lo pujante a bradar do alto da tribuna. Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, tem a capacidade de acariciar nossos ouvidos. É um sedutor, mas não faria sucesso num outdoor. Vozes roucas também hipnotizam. Com uma rouquidão de cantor de blues, Lula se faz ouvir e convencer, mesmo da prisão. Pode proferir asneiras. Só que elas soam como uma linda ciranda popular.

Sempre me perguntei por que a voz é fundamental na vida política, para não falar na artística. Diz o provérbio atribuído a Júlio César sobre a esposa, Pompeia Sula: “A mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta”. Parafraseando o líder romano, não basta parecer verdadeiro, é preciso soar como tal. A voz infunde legitimidade.

A ciência explica o fenômeno — ou, pelo menos diz que explica. Neurolinguistas, psicólogos, antropólogos e até os famigerada os coachs corporativos afirmam que aquele que possui um naipe grave tende a ocupar uma posição de liderança. Para eles, trata-se de uma reminiscência dos estágios arcaicos da evolução humana, quando os neandertais dominavam os clãs pelo urro assustador. Tais estereótipos estão mudando e é possível modular a voz aguda com certa elegância. Moro e Bolsonaro poderiam consultar um fonoaudiólogo. Talvez obtivessem resultados ainda melhores em seus pronunciamentos.

Por que as pessoas, sobretudo os políticos, fazem mais sucesso quando possuem dotes vocais? A ciência explica

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