Gal Costa morreu. 77 anos de idade.

Pouco ainda se sabe sobre a causa da morte, nesse momento em que escrevo. Fizera ela, recentemente, uma cirurgia para extração de um nódulo na fossa nasal direita. Corre a notícia de que foi infarto. Que importa? O que conta é a enorme tristeza e saudade que já nos deixa.

Só tenho essas certezas: a dor de perder alguém com a lucidez política e intelectual de Gal Costa, a coragem de lutar contra ditaduras e censores, dona de um timbre de voz que a faz ícone da música popular brasileira, no patamar de Abigail Parecis, Dalva de Oliveira e Elis Regina.

Gal veio avassaladora como artista nos anos 1960. Com sustenidos e bemóis de quem era dona da própria garganta, ela ia da reflexão das letras de Gilberto Gil e Caetano Veloso à introspecção das canções de Torquato Neto. Da Bahia ao Piauí.

Gal, que juntamente com Caetano, nos deu um hino. Nele há um trecho que diz: “você precisa / tomar um sorvete / na lanchonete / andar com a gente / me ver de perto / ouvir aquela canção / do Roberto / baby baby / há quanto tempo (…)”. Eu e o Brasil vimos Gal de perto!

Eram difíceis anos de falso moralismo no Brasil, e Gal escancarava e denunciava isso. Cantava: “(…) leia na minha camisa (…)”. O Tropicalismo, maravilhoso movimento da contracultura, berrando que é “proibido proibir”, na voz e autoria de Caetano. Gal encarnava o Tropicalismo que incomodava o establishment.

Inesquecível. No antidemocrático e torturante ano de 1968, ano do AI-5 e do luto pelas torturas e mortes promovidas pela ditadura militar, Gal participou do álbum da resistência: Panis et Circencis.