Donald Trump está em plena campanha. Com apoio de dois terços dos republicanos para ser candidato novamente nas eleições de 2024, ele continua a animar os seguidores fanáticos, despejando críticas e ironias ao governo de Joe Biden. Os problemas do atual presidente animam seu antecessor. Com a desastrada saída de tropas do Afeganistão, a ameaça persistente da pandemia, o desemprego e a inflação em altas, a popularidade de Biden desaba. Caiu de 57%,, quando assumiu o cargo em janeiro deste ano, para 43%, segundo pesquisas de vários institutos.

APOIO Seguidores fiéis de Trump mostram que o ex-presidente ainda mantém controle sobre o Partido Republicano (Crédito:SCOTT OLSON)

Pleitos recentes traduziram as dificuldades dos seguidores de Biden. Três estados governados por democratas passaram por eleições neste semestre e comprovaram a situação delicada para o atual presidente. Por pouco, Gavin Newson conseguiu manter o posto de governador da Califórnia, em um processo de recall. Em 2 de novembro, Phil Murphy foi reeleito por margem estreita em Nova Jersey. E na Virginia, a vitória do republicano Glenn Youngkin para governador, no início de novembro, acendeu o sinal de alarme. A eleição era encarada como um tira-teima Biden x Trump. E Trump ganhou. Evangélico, milionário e com pinta de “bom moço”, Youngkin será governador de um Estado onde Biden havia alcançado dez pontos de vantagem sobre Trump na eleição do ano passado. De nada adiantou o apoio do atual presidente ao democrata Terry McAuliffe, nem do ex, Barack Obama —que chegou a fazer um apelo desesperado para os eleitores democratas.

O pulo do gato para o ex-presidente será a possível tomada do Congresso — agora legalmente — nas eleições de meio de mandato, em novembro de 2022. Para isso, Trump já age nos bastidores, apoiando pelo menos 40 candidatos republicanos para inverter a pequena margem democrata nas cadeiras legislativas. O republicano comemora. Só não se autoproclamou (ainda) candidato às eleições à Presidência em 2024 por causa de restrições legais. Mas já faz campanha descarada, surfando nos tropeços de Biden. Pesquisa da Redfield & Wilton Strategies de novembro, por exemplo, mostra 44% de entrevistados dizendo que votariam para Trump em 2024, contra 39% de Biden. Em outubro, Trump voltou a reunir os seguidores em Iowa, onde em 2020 obteve oito pontos de vantagem sobre Biden. Arrebanhou milhares para ouvir suas críticas e ironias sobre o atual presidente, que teve dificuldades até para unir os democratas no Capitólio na aprovação do pacote de recuperação econômica de US$ 3 trilhões.

Retirada desastrosa de tropas no Afeganistão, pandemia e crise na economia fazem a aprovação do republicano superar a do atual presidente

DIFICULDADES O presidente Joe Biden na Casa Branca, em 29 de novembro: mandato tumultuado (Crédito:Kevin Lamarque)

Eleições legislativas

De acordo com o Gallup, empresa global de análises e consultoria, o ponto de inflexão para o democrata aconteceu em agosto, quando os 57% de aprovação e os 37% de desaprovação se inverteram para 49% e 48%, respectivamente, coincidindo com a retirada do Afeganistão e o aumento dos casos da variante Delta da Covid. Pesquisa de 17 e 18 de novembro da Reuters/Ipsos mostrou que menos da metade dos americanos aprova Biden, com 44% contra 49%. A NBC News, na virada de novembro, apontou que 71% vêem o país no caminho errado. Os democratas se arrepiaram com os dados destacando que dois terços dos chamados eleitores “independentes” passaram da aprovação para a desaprovação de Biden, enquanto eleitores de Trump se mantêm fieis. E pior: o jornal Washington Post detectou que os próprios democratas preferem outro candidato à Presidência em 2024, no lugar de Biden.

Enquanto o democrata patina, Trump se mostra um ímã para o Partido Republicano: seu aval é ultradisputado. Em agosto, de acordo com a rede ABC News, sua equipe já havia arrecadado US$ 82 milhões (R$ 463 milhões) em doações. Os recursos podem alimentar campanhas dos aliados — e ele já manifestou apoio pessoal a 40 candidatos ao Congresso no próximo ano. Em 8 de novembro de 2022, quando serão renovadas as cadeiras da Câmara dos Representantes e do Senado, os democratas poderão experimentar a vingança do único presidente que ameaçou a democracia americana.