Em um mundo da música ditado por The Beatles e Rolling Stones na década de 1980, oito garotos paulistanos passaram a fazer música e ilustrar os quartos dos adolescentes em pôsteres com letras transgressoras e críticas: os Titãs, banda formada originalmente por Arnaldo Antunes, Branco Mello, Charles Gavin, Marcelo Fromer, Nando Reis, Paulo Miklos, Sérgio Britto e Tony Bellotto, anunciaram na última quarta-feira (16) uma turnê comemorativa dos 40 anos de uma das maiores bandas do rock brasileiro.

Serão dez shows por diferentes estados do País com ingressos que variam de 45 a 450 reais. Os músicos prometem trazer de volta aos palcos canções clássicas da discografia da banda, como Epitáfio e É Preciso Amar, com o mesmo espírito questionador que tinham no início do grupo, na década de 1980. “Quando estamos juntos, nos nutrimos da energia de antigamente”, afirma Arnaldo Antunes, que foi o primeiro integrante a deixar a banda, em 1992.

Desse ano até 2016, quando Charles Gavin saiu, a banda foi sendo enxugada até passar a ser formada apenas por Branco Mello, Sérgio Britto e Tony Bellotto. Em trio, lançaram álbuns como Doze Flores Amarelas, de ópera rock, e Olho Furta-Cor, o último, desenvolvido em 2022. Este ano, além de marcar 40 anos de banda, também celebra a volta de Branco Mello para os Titãs após sete meses de pausa para tratar um tumor na hipofaringe.

A expectativa dos fãs por ver a formação clássica junta novamente é justificada pela aposta dos Titãs em espaços enormes para abrigarem os shows, que terão início em abril de 2023 e estão com ingressos em pré-venda: “Nós fizemos parte da história de muita gente, e o público carrega uma memória afetiva ligada ao nosso nome”, continua Antunes.

A falta de Marcelo Fromer, que faleceu em 2001 em um atropelamento, é sentida pelo grupo. Em uma homenagem ao amigo, Sérgio Britto conta que eles optaram por convidar Alice Fromer, filha do ex-integrante, para tocar com eles nos palcos: “Tudo é pelo Marcelo, ele era a cola que nos unia e vamos, com certeza, levar a energia dele para os palcos”. Também, o guitarrista Liminha ocupará a posição em alguns shows da turnê, prometendo interpretações novas para canções já conhecidas pelo público.

O momento atual no Brasil, com o fortalecimento de discursos militaristas e antidemocráticos, remonta ao início do grupo, durante a ditadura militar brasileira. Com músicas que buscavam driblar a censura e divertir o ouvinte, os Titãs ainda se empenham na defesa de um País livre: “É bom estudar história para evitar reviver o que nós passamos”, reforça Charles Gavin. “De quando começamos até hoje, muitas coisas não saíram do lugar e outras foram para lugares inesperados”, complementa Britto.

Em tom de brincadeira, Paulo Miklos e Nando Reis exaltam o trabalho realizado pela banda ao longo de todos esses anos, e celebram a possibilidade de poder voltar a falar de coletividade. Afirmando ser fã, além de integrante, Reis resume o sentimento que embala o reencontro dos Titãs: “Nós fazemos música de altíssimo nível. Nós somos f…”.

*Duda Ventura, estagiária orientada por Felipe Machado