Condenados em operações diversas da Polícia Federal articulam para voltar à cena pública e querem deixar de ser considerados bandidos. Eles foram contagiados pela liberdade usufruída pelo ex-presidente Lula, que comemorou muito o arquivamento do processo que o apontava como proprietário do triplex no Guarujá. Eufórico, o petista disse uma frase que chamou atenção e ao mesmo tempo deixou grandes interrogações: “Quem era herói está virando bandido, e quem era bandido está virando herói”. Será? A popularidade elevada e o salto alto do clima de já ganhou na campanha tem dominado o ex-sindicalista. Empolgados com as repercussões, José Dirceu, João Paulo Cunha, Delúbio Soares, João Vaccari Neto, Delcídio Amaral, Eduardo Cunha e outros caciques que marcaram os governos do PT, estão prontos para voltar a ter protagonismo político em Brasília.

Certamente, José Dirceu é o ex-presidiário mais conhecido do partido. Ele liderava o governo e era apontado como o sucessor natural de Lula (Dilma foi o plano B). No entanto, com o envolvimento no Mensalão, Dirceu foi obrigado a sair do governo quando chefiava a Casa Civil e logo depois foi preso. O ex-ministro também cumpriu pena por denúncias apuradas na operação Lava Jato. Em 2018, profetizava: “Nós vamos tomar o poder”. Após algum tempo afastado, ele voltou a dominar os bastidores do PT. Sob seu comando muitas das articulações são feitas. Depois de Lula, é Dirceu quem tem o melhor trânsito entre os partidos do Centrão e caciques petistas. Por conta do desgaste de sua imagem o PT prefere que ele permaneça oculto na campanha. Nos últimos meses Dirceu aderiu à plataforma TikTok para falar com seu público e deseja se transformar em eminência parda do lulismo.

“Quem era herói está virando bandido, e quem era bandido está virando herói” Lula, ex-presidente

Outro condenado que quer voltar, mas dessa vez por meio de um cargo eletivo é o ex-deputado João Paulo Cunha. Ele presidiu a Câmara dos Deputados no auge do governo Lula e foi preso por ter participado do escândalo do Mensalão. Líderes do partido estão preocupados porque Cunha se lançou à Câmara e tem usado a imagem de Lula em saudação, como ocorreu em plenária realizada em dezembro. O slogan utilizado era “amigos e companheiros de Lula e João Paulo”. A avaliação é que a sua candidatura possa atrapalhar o partido e trazer de volta, publicamente, o fantasma dos ex-presidiários petistas.

Apontado como o principal responsável pela queda da presidente Dilma Rousseff, o ex-deputado Eduardo Cunha ficou preso por conta da operação Lava Jato. Logo que conseguiu liberdade, o ex-presidente da Câmara lançou um livro “Tchau, querida”, numa clara provocação a frase popularizada no impeachment de Dilma. Ali ele já traçava a estratégia de mídia para voltar ao poder. Cacique do MDB, à época que presidiu a Câmara, Cunha se distanciou do partido e negocia outra legenda para ser candidato pelo estado de São Paulo. Ele não quer disputar votos com a filha Danielle que concorrerá pelo Rio de Janeiro.

Possível apoiador do presidente Bolsonaro, o ex-senador Delcídio do Amaral mudou de lado de uma maneira radical. Ele era líder do governo Dilma, mas delatou os presidentes petistas e caiu em desgraça no partido. Hoje, está filiado ao PTB de Roberto Jefferson e se apresenta como conservador. Delcídio também quer uma vaga no cargo de deputado federal.

Dois personagens que pretendem voltar com destaque à política ocuparam o cargo de tesoureiro do PT, Delúbio Soares e João Vaccari Neto. Ambos foram presos pelo crime de lavagem de dinheiro. A meta é se elegerem para a Câmara dos Deputados. Eles ainda mantêm muita influência dentro do partido e a possibilidade de eleição de Lula abre portas para as suas campanhas.

A última década foi marcada por um número de prisões de políticos atípicas para o padrão nacional. A escolha de cargos eletivos federais, como deputado e senador tem algo em comum, pois esses postos garantem a imunidade parlamentar, que é o que muitos procuram nesse momento. A convivência com o poder é inebriante e quem já experimentou quer voltar. Diferente da campanha de 2018, que demonizou os políticos e combateu os envolvidos em ato de corrupção, em 2022 parece que a população esqueceu-se dos crimes e pode levar ao poder condenados pela Justiça.