Com dez episódios, a temporada de estreia da série Zorro já está disponível no Prime Video. Essa é a primeira adaptação das aventuras do herói para uma plataforma de streaming e a mais recente produção para as telas em quase duas décadas.

A última encarnação audiovisual das histórias do justiceiro mascarado havia sido A Lenda do Zorro, longa-metragem de 2005, que trazia Antonio Banderas pela segunda vez no papel principal.

A série é estrelada por Miguel Bernardeau, astro de Elite (Netflix), que interpreta Dom Diego de La Vega e seu alterego heroico, o Zorro.

Criado em 1919 pelo escritor americano Johnston McCulley (1883-1958), o cavaleiro mascarado busca descobrir quem são os assassinos de seu pai, Alejandro (Luis Tosar), numa Los Angeles recém-liberta da Coroa espanhola, mas sob o jugo de um governador corrupto, na primeira metade do século 19.

Diretor de seis episódios desta primeira temporada, Javier Quintas (A Casa de Papel) lembra, em entrevista à ISTOÉ, que “praticamente tivemos um Zorro por geração” desde a sua primeira adaptação cinematográfica, em 1920, com Douglas Fairbanks no papel do justiceiro. Em seguida vieram Tyrone Power (1940), Guy Williams (na série televisiva do fim dos anos 1950), Alain Delon (1975), e Banderas, nos anos 1990 e 2000. “Agora temos Miguel Bernardeau, que cria uma nova interpretação para o personagem, um Zorro contemporâneo, atencioso, divertido”.

Para Quintas, a nova série Zorro é também uma mescla, em termos de gênero, de suas encarnações passadas. Vale notar que, no cinema como na televisão, o personagem foi ora mais aventureiro, ora mais dramático ou ainda romântico.

Em 1981, o ator americano George Hamilton chegou a estrelar uma comédia rasgada, a paródia As Duas Faces de Zorro, em que Diego de La Vega, ferido, é forçado a entregar a máscara a seu irmão gêmeo gay, Ramon.

Atualizações

“Cada um desses intérpretes falou aos seus contemporâneos na sua própria língua, mas todos expressaram e defenderam os mesmos valores, desde o início. E é isso que torna o personagem relevante, ainda mais em um mundo como o nosso atual, atormentado por injustiças e abusos por parte dos poderosos, em todos os lugares”, avalia. “Mas, o fato de ele estar marcado pela morte do pai e seu desejo de encontrar os assassinos, além da versão oficial, acrescentam uma pouco de amargura a Zorro. O que complementa muito bem os demais traços do personagem”.

Já nos dois episódios iniciais é possível ver algumas atualizações sutis do personagem. Um Zorro questionador, que contesta até a utilidade de sua capa, enquanto treina alguns golpes com sua espada, afirma, em outro momento: “Eu pensei que o privilégio tinha acabado quando ganhamos nossa independência”.

Na série, o herói também está às voltas com a disputa entre os povos originários e uma “empresa russo-americana”, por concessões de comércio. Quintas, não acredita, no entanto, que a nova atração seja politicamente correta. Para o diretor, algo que define o caráter do protagonista é o seu claro senso de justiça e a defesa dos oprimidos “que não possuem armas reais” para se defenderem dos poderosos.

“Cada Zorro pertence ao seu tempo e dirige-se aos espectadores de seu tempo. Pode não parecer anacrônico, mas também não é arcaico”, pondera Quinta. “Os telespectadores modernos evoluíram em seus posicionamentos diante de questões como a igualdade de gênero e a compreensão de nossa diversidade, que procuramos ter presentes no nosso Zorro, tentando fugir às atitudes mais ou menos paternalistas do passado. Isso, sem perder de vista a figura do herói, sem esquecer que estamos falando de uma ficção de entretenimento, que se passa num mundo fantástico, com personagens fantásticas”.

Ainda que a série adapte as aventuras do herói às sensibilidades do século XXI, o diretor considera que o maior desafio da produção foi criar uma nova atração com o Zorro de sempre. “Estamos trazendo de volta à vida um dos super-heróis mais importantes do mundo. Foi um privilégio, mas também uma grande responsabilidade”, afirma.

“Outro enorme desafio também tem sido recriar com verossimilhança, tendo certas licenças delimitadas por aquele tom de história fantástica, a paisagem da Califórnia na ilha de Grã Canária”, diz Quintas, referindo-se à maior ilha do arquipélago espanhol das Canárias, no Oceano Atlântico, que serviu de locação para a série, e onde a equipe enfrentou até mesmo um “pequeno furação” durante as filmagens. “Acredito que a grandiosidade e a beleza oferecidas pelas paisagens infinitamente diversas do lugar irão surpreender e justificar estas licenças.”

Em outras encarnações

A Marca do Zorro (1920): Douglas Fairbanks protagonizou o primeiro filme (Crédito:Divulgação)
Zorro: De 1957 a 1959, Guy Williams viveu o herói na série televisiva (Crédito:Divulgação)
A Marca do Zorro: O ator Frank Langella estrelou o telefilme de 1974 (Crédito:Divulgação)
As Duas Faces de Zorro, de 1981: paródia com George Hamilton (Crédito:Divulgação)
A Lenda do Zorro: Em 2005, Antonio Banderas na versão mais recente (Crédito:Divulgação)