Sete anos e R$ 300 milhões depois, o Ca’d’Oro está de volta. Abre as portas na próxima segunda, com diárias a partir de R$ 450, o hotel e o restaurante inaugurado em 1953 pela família Guzzoni – que, por muito tempo, foi sinônimo de charme no centro paulistano. “Eu não disse que voltaríamos?”, afirmou na tarde de quarta Aurélio Guzzoni, filho do fundador do hotel.

Voltaram, sim. Em um novíssimo prédio, moderno, contemporâneo e multiuso – os quartos do hotel ficam do 19.º ao 27.º andares; nos pisos abaixo, com acesso por outra entrada, funcionarão escritórios comerciais. “Mas a velha alma do Ca’d’Oro será mantida”, promete Guzzoni, que aos 66 anos deve atuar como conselheiro do empreendimento, agora comandado pelo sobrinho Fabrizio Guzzoni, de 37 anos. “Nos detalhes: o atendimento personalizado que nos deixou conhecidos e nos valores. O ideal é aliar tradição e inovação.”

O Ca’d’Oro das antigas também poderá ser reconhecido nos rostos de alguns funcionários que voltam ao time. Entre os seis “recuperados” está o mensageiro Mario Roberto Espolaor, de 68 anos, feliz da vida. “Trabalhei aqui de 1979 a 2009. Quando fechou, foi aquela tristeza…”, conta ele. Arranjou-se como porteiro em um condomínio mas, nem bem soube que o hotel de sua vida estava para ser reaberto, voltou lá para assumir seu emprego de volta. Ao longo da semana passada, já estava lá todo uniformizado à espera dos primeiros hóspedes.

História

Mas o maior patrimônio mesmo do Ca’d’Oro está em sua peculiar história. “Foi o que fez com que mudássemos o plano inicial, de fazer apenas um prédio comercial ali, e investíssemos na reconstrução do hotel”, diz o executivo Ricardo Laham, diretor de incorporação da Brookfield Incorporações. “Estamos em um lugar que tem raízes, tradição, nome. Em vez de sermos o incorporador que encerrou uma história, vimos a oportunidade de prover o recomeço do Ca’d’Oro.”

Em suas décadas áureas, o hotel – e o restaurante contíguo – era refinado ponto de encontro de autoridades, intelectuais e artistas. O pintor Di Cavalcanti (1897-1976) chegou a morar ali durante alguns meses. O poeta Vinicius de Moraes (1913-1980) e o escritor americano Gore Vidal (1925-2012) também eram figurinhas fáceis pelos corredores. Toda essa história foi registrada recentemente em livro – Grande Hotel Ca’d’Oro, de Celso Nucci e Marília Scalzo, da Editora Senac.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Entre os autógrafos orgulhosamente colecionados pela administração do hotel, há nomes como os do poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973), do cientista americano Linus Pauling (1901-1994), dos escritores Jorge Amado (1912-2001) e Rachel de Queiroz (1910-2003), do cantor Roberto Carlos, do apresentador de televisão e empresário Silvio Santos e do ex-jogador de futebol Pelé. Em 1991, o tenor Luciano Pavarotti (1935-2007) ocupou um dos luxuosos quartos – que foi totalmente reformado.

Tradição

A história hoteleira dos Guzzonis começou em Bérgamo, na Itália. Em um dos hotéis da família, Fabrizio Guzzoni (1920-2005) conheceu uma brasileira, com quem viria a se casar. Já em São Paulo, inaugurou o Ca’d’Oro – primeiro como restaurante, em 1953, na Rua Barão de Itapetininga. Três anos depois, na Rua Basílio da Gama, nascia o hotel. Poucos anos mais tarde, com 300 apartamentos, Guzzoni instalava seu negócio no endereço definitivo, na Rua Augusta.

Para se ter uma ideia de como o Ca’d’Oro prezava a elegância, até 1962 era proibida, em seu restaurante, a entrada de homens sem gravata. “A partir de 1978, não obrigávamos mais. Mas tínhamos uma plaquetinha onde se lia ‘agradecemos o uso do paletó’”, diz Aurélio. “Hoje, como vamos fazer? Penso que as coisas estão mais flexíveis…”, comentava na quarta. “Temos de entender que os tempos mudaram e uma refeição é também momento de relaxamento e lazer”, pontuava Fabrizio. “Mas aqui não é restaurante de resort de praia. Regatas, chinelos, isso não dá.”


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias