Foram quase dois anos enclausuradas dentro de casa sem poder sair para ir ao cabelereiro, um simples almoço e deixando viagens de lado. O cenário, porém, começa a mudar para as senhoras da terceira idade. Com o avanço da vacinação, e a dose de reforço, esse grupo tem se sentido mais livre e seguro para marcar encontros com as velhas amigas em shoppings, restaurantes e casas de chá. As professoras aposentadas, Sandra Petracco, 57 anos, Vânia Velloso, 69, e Fátima Branco, 73, são algumas dessas personagens que retomam discretamente seus hábitos pré-pandemia. Na semana passada, as amigas de mais de 20 anos estavam se encontrando pela primeira vez desde o início das restrições impostas pela Covid-19, e escolheram uma casa de chá localizada em um bairro nobre da zona Oeste de São Paulo.

Ao serem abordadas pela reportagem, Fátima afirmou que apenas tiraria a máscara em caso de extrema necessidade. Já Vânia sentou e a primeira coisa que fez foi tirar o protetor facial. “Sou mais assanhadinha”, disse entre risadas das amigas. As três já tomaram a terceira dose da vacina, mas mesmo assim tomam todos os cuidados quando saem na rua. “Fui na Sala São Paulo no início de dezembro, mas havia controle de público”, explica Sandra.

DISPOSIÇÃO No Parque Lage, no Rio, a produtora cultural Regina Coelho (à dir) se diverte com as companheiras de chá (Crédito:Chico Ferreira)

O Rio de Janeiro, além da pandemia de Covid-19, está enfrentando uma epidemia de Influenza. A produtora cultural, Regina Coelho, 61 anos, sabe que deveria ficar em casa, mas não pode ir contra sua principal caracteristica: ser “rueira de corpo e alma”. Há mais de 20 anos produzindo peças de teatro e shows, como o Rock in Rio, Regina conta que ficou diabética na pandemia e diz que o reencontro com as amigas foi uma “salvação” para ela. “A falta da rua me incomodava. Se eu não puder abraçar, beijar, sentir o corpo da pessoa ao cumprimentar, é a morte para mim”, explica.

O comércio, porém, ainda não está satisfeito com o retorno das clientes, mais lento do que as casas de chá gostariam. A Tea Connection, em São Paulo, teve um aumento no número de pessoas da terceira idade, mas ainda é menos do que no passado. “Metade do nosso público tinha esse perfil antes da pandemia e agora não chega a 15%”, revela a gerente Marcela Gonçalves. Seja como for, o fato é que aos poucos e com segurança, as senhoras estão voltando aos seus antigos hábitos.