Com 14 anos de bagagem no Planalto, o PT costuma manter nomes de confiança em espaços sensíveis do tabuleiro político em vez de colocar novas peças no jogo. O retorno de Jorge Messias é um bom exemplo: o procurador da Fazenda, que ganhou fama ao ser citado sob a alcunha de “Bessias” na ligação entre Dilma Rousseff e Lula, grampeada por ordem de Sergio Moro, está em ascensão na equipe de transição e vê crescerem suas chances de assumir a Advocacia-Geral da União (AGU).

Messias submergiu na época do impeachment de Dilma, mas não deixou Brasília. Desde 2019, trabalha como assistente parlamentar de Jaques Wagner, um dos congressistas mais próximos de Lula. No gabinete, recebe R$ 7,1 mil. O valor é somado a seu salário como procurador, de R$ 27,3 mil, segundo os portais da Transparência do Senado e do governo. Wagner, aliás, não é o único nome graúdo que o apoia. O procurador tem história com Aloizio Mercadante. Foi o ex-ministro quem levou Messias para a gestão Dilma, onde ele ocupou cargos de destaque nos ministérios da Ciência, Tecnologia e Informação e da Educação até chegar à subchefia de Assuntos Jurídicos da Casa Civil — neste último, comandou a defesa da presidente na Operação Zelotes. Messias ainda conta com a bênção de Marco Aurélio de Carvalho, advogado que pode ascender à Secretaria-Geral da Presidência.

Escalado para a transição, Messias tem voz de comando sobre o grupo técnico de Transparência, Integridade e Controle e chegou a acompanhar Lula nas primeiras visitas dele ao Supremo Tribunal Federal e ao Tribunal Superior Eleitoral após as eleições. Também teve agendas privadas com os ministros Gilmar Mendes, Luiz Fux, Dias Toffoli, Alexandre de Moraes e Cármen Lúcia.

Embora esteja na dianteira na disputa pela AGU, Messias enfrenta a resistência de parte do PT, a qual aponta que o presidente eleito “estreiaria mal” ao reacender no imaginário da população o episódio em que Dilma tentou nomeá-lo como ministro da Casa Civil para garantir a ele foro privilegiado e livrá-lo da possibilidade de prisão. “Seguinte: eu ‘tô’ mandando o ‘Bessias’ junto com o papel, pra gente ter ele. E só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse, tá?”, avisou a então presidente a Lula, em 2016.

A mesma ala defende uma “solução caseira”, como Cristiano Zanin, ou um nome entre os demais candidatos colocados no páreo — Luiz Fernando Bandeira de Mello Filho, membro do Conselho Nacional de Justiça e apadrinhado político de Renan Calheiros, ou Anderson Pomini, advogado próximo a Geraldo Alckmin. Aliados de Messias reconhecem o fogo amigo, mas minimizam o impacto. Dizem que o procurador tem a confiança da cúpula petista, e isso basta. No entorno de Lula, é consenso que, na AGU ou em outro posto, Messias será compensado pelo desgaste sofrido em 2016.