COLECIONADOR Entre a fortuna de Messer estão quadros de Di Cavalcanti: obras de arte raras

Doleiro do ex-governador Sérgio Cabral e de outras dezenas de corruptos do Rio de Janeiro, Dario Messer lavou tanto dinheiro em décadas de atividade criminosa que transformou-se em um bilionário, com direito a ter contas milionárias no exterior, sobretudo nas Bahamas, fazendas de gado valiosíssimas no Paraguai e apartamentos luxuosos em Nova York e no Leblon, no Rio, todos decorados com obras de arte dos mais renomados artistas plásticos, de Di Cavalcanti a Eugênio de Proença Sigaud. Quadros de valor inestimável, mas cuja avaliação ainda não foi concluída pelos peritos judiciais. Considerado o “doleiro dos doleiros”, Messer fez o maior acordo de delação premiada do País com a Justiça fluminense e foi obrigado a devolver 99% de sua fortuna, avaliada em R$ 1 bilhão. Além de abrir mão dos bens que conquistou praticando crimes, o doleiro conformou-se em passar 18 anos e nove meses na cadeia – no momento, é mantido em prisão domiciliar por conta da pandemia. Mesmo assim, ele ainda ficará com R$ 50 milhões, incluindo um apartamento no Rio, o que não deixa de ser um prêmio para um dos maiores bandidos de colarinho branco do País.

O apartamento que a Justiça permitiu que continue em seu nome tem 75 metros quadrados e fica no Leblon, Zona Sul do Rio, onde reside atualmente, mas apesar do acanhado tamanho é bastante sofisticado, com itens de acabamento requintados. Além desse imóvel, a Justiça consentiu que ele desfrute de uma “módica” quantia de R$ 3 milhões que ele mantém depositados nas suas contas bancarias no Brasil. As demais contas, com R$ 60 milhões nas Bahamas, R$ 2,5 milhões em bancos no Paraguai e outros R$ 60 milhões aplicados em investimentos financeiros em bancos espalhados pelo mundo, serão confiscadas e os valores retornarão aos cofres da União.

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Alvo de diversos inquéritos, o “doleiro dos doleiros” passou mais de 15 meses foragido da Justiça que o acusou de liderar esquemas criminosos que movimentaram mais de US$ 1,6 bilhão (R$ 8,9 bilhões) em 52 países. Os procuradores do Ministério Público Federal envolvidos no caso apontam delitos como lavagem de dinheiro, contrabando de pedras preciosas, movimentações financeiras ilegais, corrupção, entre outros delitos. Na semana passada, inclusive, Messer foi condenado a 13 anos e 4 meses de prisão por traficar pedras preciosas de uma mina da Bahia para países do mercado europeu. Essa pena já está embutida na sentença de 18 anos derivada do acordo de delação.

“A Lava Jato não seria o que é hoje sem o auxílio das delações premiadas”, Rodrigo Felberg, advogado criminalista

A “caixa de pandora” aberta com os escândalos da Operação Lava Jato mostrou que, embora não seja possível isentar os culpados das irregularidades em suas penas, mesmo que eles colaborem com a Justiça, é preciso “afrouxar” as rédeas para se conseguir chegar à raiz dos esquemas corruptos e isso se dá na construção dos acordos judiciais. “A delação mudou a forma como as investigações são conduzidas. Hoje, ela é responsável por quebrar esquemas grandiosos e a tendência é continuar auxiliando a Justiça”, disse o criminalista Rodrigo Felberg, especializado em colaborações premiadas.

Um possível entrave nesse processo de confisco de bens é em relação ao governo do Paraguai. Messer era amigo pessoal de Horácio Cartes, ex-presidente do país e que foi responsável por ajudá-lo a se esconder durante as investigações no Brasil. O doleiro confirmou a existência de bens naquele País, que também está interessado em reaver parte desse patrimônio. Entre as propriedades no Paraguai estão fazendas, equipamentos agrícolas e automóveis, avaliadas em R$ 750 milhões. A tendência é que os bens bilionários de Messer sejam divididos entre os dois países. Messer, por sua vez, deixa a vida de bilionário, mas continuará milionário, embora preso por algum tempo.