A vida de Amélia de Leuchtenberg foi tão extraordinária que é difícil compreender por que ela não se tornou conhecida no Brasil feito outras personalidades do período da Independência e do Primeiro Reinado. Uma biografia recém-lançada pela pesquisadora Cláudia Thomé Witte tem tudo para corrigir essa situação: D. Amélia: a História Não Contada – A Neta de Napoleão que se Tornou Imperatriz do Brasil revela uma personagem ainda mais interessante do que se sabia, e uma figura que influenciou como poucas a vida política e cultural da sociedade brasileira de sua época.

Neta de Napoleão Bonaparte e Josefina, imperadores da França, Amélie Auguste Eugénie Napolóne de Beauharnais era uma das mais belas e educadas princesas da Europa quando recebeu a visita do Marquês de Barbacena. O diplomata fora enviado à Europa por Dom Pedro com a missão de encontrar-lhe uma nova companheira.

A austríaca Maria Leopoldina, sua primeira esposa, falecera e não havia a possibilidade de ele se casar com a amante, a Marquesa de Santos. Além disso, o imperador buscava fortalecer a relação do Brasil pós-independência com as cortes europeias — e um bom casamento era uma estratégia garantida para isso.

O desafio de Barbacena, porém, era enorme: Dom Pedro era mal visto nas cortes europeias por sua fama de mulherengo, e seria difícil convencer alguma candidata a abandonar o Velho Continente para viver do outro lado do mundo, em uma colônia politicamente caótica e ainda em fase de desenvolvimento.

O fato de que ela teria que cuidar de cinco enteados não ajudava em nada. Não foi à toa, portanto, que Barbacena ouviu oito respostas negativas antes de se encontrar com Amélia.

Apenas uma jovem muito corajosa teria a audácia de passar mais de um mês em uma fragata antes de desembarcar em um país rústico para se casar com um homem mais velho — ele tinha 30 anos, ela, 17 —, que nunca havia visto, e cuja reputação lhe precedia de forma devastadora.

Pois ela topou: chegou ao Rio de Janeiro em 16 de outubro de 1829 e logo se instalou no Palácio de São Cristovão, dando início a uma revolução nos costumes e impondo protocolos e cerimoniais que os portugueses, por preguiça ou desleixo, haviam abandonado.

Maria Leopoldina: filhos criados pela nova esposa do imperador (Crédito:Istockphoto)

No dia seguinte à chegada, Dom Pedro, para mostrar que desejava se dedicar para valer ao novo matrimônio, instituiu a Ordem do Rosa, título cujo lema era “Amor e Fidelidade”.

A fama da nova imperatriz, uma espécie de celebridade em ascensão, fez a comenda feita de tecido rosa ser disputada por todos os interessados em se aproximar da corte. Resultado: as costureiras começaram a copiar a honraria e o rosa tornou-se a cor da moda no Rio de Janeiro.

Amélia foi responsável por outro hábito que perdura até hoje. Ela tornou popular o cafezinho depois do almoço, bebida que era consumida apenas pela manhã e em um copo grande.

Na Bavária, sul da Alemanha, onde Amélia cresceu, havia o costume de tomar uma xícara pequena de café forte após o almoço — no Brasil e em Portugal tomava-se licor ou vinho do porto.

Outra novidade foi o traje que ela usou no casamento, imortalizado em tela de Jean-Baptiste Debret: o vestido branco passaria a ser o padrão a partir de então.

Dom Pedro I: reputação de mulherengo (Crédito:Divulgação)

Incentivo à educação

O charme e elegância fizeram de Amélia uma figura adorada pelo povo brasileiro e pelos membros da alta sociedade.

Ela desempenhou um papel essencial na promoção da educação e das artes no Brasil, apoiando as instituições culturais e científicas que começåvam a se firmar no País.

Também se envolveu em causas sociais, dedicando-se à assistência aos mais necessitados e participando de campanhas beneficentes.

De volta a Portugal, ao lado de Dom Pedro, cuidou da educação de Maria da Glória, filha de Leopoldina, para que ela herdasse a coroa do pai, que se tornaria imperador português após embate com o irmão, Miguel.

Quanto à sua única filha com Dom Pedro, Maria Amélia de Bragança, lutou para que ela completasse o ensino superior, o que era proibido na época, até mesmo para a realeza. A jovem se tornou a primeira brasileira a se formar em física e astronomia na universidade. Amélia queria que outras mulheres tivessem vidas tão extraordinárias como a sua.