“Nossa vida é toda em senhas. Daqui a pouco vamos precisar de senha até para ir ao banheiro!”, comenta o bem-humorado engenheiro Guilherme Nogueira, que gera sequências com nomes ou apelidos como “boia de salvação”. Depois, codifica um lugar para chegar a elas, no computador. Mas ao contrário de Guilherme, a maioria anota com caneta mesmo, até em “chumaços de papel” como conta a também engenheira Eliana Saletti, ou usa “um caderninho muito sem-vergonha”, como a servidora pública aposentada Ivany de Barros. Para Regiane Castro, fisioterapeuta, está cada vez mais difícil conviver com senhas, “sempre uma coisa trágica”. Ela, que teve celular roubado, passou pela “pior sensação de ter todas as senhas invadidas e precisar de um especialista para resgate e troca”. Agora, colocou duas etapas de verificação em todas.

CELULAR ROUBADO Regiane agora usa senhas com dupla segurança e mantém anotações em caderno (Crédito:Marco Ankosqui)

Os mais despreocupados, como o paisagista Irineu Engler, usam “nomes de pets mais antigos e mais novos”, e vive sendo “bloqueado na terceira tentativa”. Fernando Cury, empresário, não decora e nem se abala: pede novas senhas em todos os sites que entra. “Não dizem que é preciso mudar de vez em quando?!”, justifica. Há quem quebre a cabeça, como a publicitária Silvia Grandin, que montou ”um algoritmo próprio”. E os pós-desesperados, como a designer Paula Taibo, que “chorava e usava um monte de palavrões de senha” e agora organiza a vida em uma agenda inteligente.

De acordo com a NordPass, um serviço para gerenciamento de senhas, mais de 125 milhões delas foram vazadas no Brasil apenas em 2021 (a mais usada é a 123456, que leva menos de um segundo para ser quebrada). Cristian Souza, professor no IDESP e consultor em cibersegurança, diz que durante a pandemia, com o trabalho remoto, houve aumento de mais de 300% de ataques. É um trabalho complexo, como do bloqueador no vôlei: o atacante procura uma fragilidade do oponente, mas quem defende precisa pensar em inúmeras possibilidades. Às dicas para senhas quanto a letras, maiúsculas, minúsculas, números e símbolos, acrescenta que jamais devem ser usados dados pessoais, mesmo que mesclados entre si. Diz que não se deve usar a mesma senha para tudo e nunca enviá-las por WhatsApp.