Quando uma grife do tamanho da italiana Valentino decide fazer uma coleção usando apenas uma cor, é sinal de que há algo diferente no mercado. O diretor criativo da marca, Pierpaolo Piccioli, apostou com tudo no rosa choque e chegou a criar a sua própria tonalidade em parceria com a Pantone, empresa global de codificação de cores. A “Valentino Pink PP”, que apesar de chamativa não chega ao fluorescente, estilo que dominou as lojas globais em 2018, já é um sucesso. Aliás, ao falar sobre o rosa de maneira geral, muitos nomes surgem: rosa bebê, neon, millenial e, claro, pink.

A recente obsessão pela cor começou com as semanas de moda de outubro do ano passado, onde não só a Valentino, mas também Prada, Chanel e Michael Kors mostraram suas cores e versões da tonalidade. Agora a cor começa a chegar às vitrines depois de passar pelo tapete vermelho das principais premiações do cinema e da música. No último Oscar, por exemplo, chamaram a atenção os vestidos das atrizes Lily James e Zoë Kravitz. Já no campo masculino, o ator Daniel Craig causou frisson ao usar um blazer pink em veludo no lançamento do último filme da franquia 007, “Sem tempo para morrer”.

Mas, afinal, quando e como usar o cor-de-rosa? Segundo Rita Heroína, personal stylist e professora de Moda da Fundação Armando Álvares Penteado, o rosa já não enfrenta resistência entre o público masculino como no passado. “Tenho dois clientes que usam bastante a cor, não tem mais isso de preconceito”, diz. O rosa claro é, de longe, o favorito. Bill Gates, o bilionário fundador da Microsoft, foi uma das pessoas que ajudou a transformar o “rosinha” em uma cor de escritório.

Camisa social, gravata, polo em tonalidades claras são facilmente encontradas no guarda-roupa masculino. Para Rita, que sempre faz “um estudo de cor” com os clientes que atende, o rosa claro passa uma ideia de ternura. “O claro significa suavidade, quanto mais branco misturado ao rosa, mais doçura você agrega”, explica. Para se ter uma ideia do alcance dessa aceitação, até o presidente Jair Bolsonaro usa gravatas em rosa. Ou seja, aquela conversa da ministra Damares Alves de que “meninos vestem azul e meninas vestem rosa” é realmente coisa do passado. Já as vertentes mais fortes, vistas até em um dos modelos de camisa do time Paris Saint Germain, significa vigor e o desejo de impactar. Por causar um “choque”, é impossível ignorar a cor e quem a veste, razão pela qual os tons mais escuros são bastante usados em festas e roupas esportivas. A Nike, mesmo em linhas masculinas, abusa dos detalhes em rosa choque em suas peças. Já para pessoas que preferem a discrição, uma boa ideia para experimentar a cor é através dos acessórios, como gravatas, pulseiras de relógio, cintos e armação de óculos, por exemplo.

O médico dermatologista Lourenço Azevedo, 39 anos, gosta do contraste que o rosa pode causar no visual. “É uma cor que combina comigo, com a minha pele e com o meu trabalho, que é focado na saúde e no bem-estar”, diz. Pare ele, as pessoas se comunicam com as roupas que escolhem e não é supérfluo se preocupar com isso. “Eu usaria rosa choque em uma situação específica, dependendo do ambiente. No dia a dia do consultório, prefiro as peças claras” diz. Um dos tons fortes de rosa é o chamado “orchid flower”, cor que aproxima o rosa choque do violeta e que foi eleita a cor do ano de 2022 pela empresa de tendências e percepção do consumidor WGSN. “A Flor da Orquídea é intensa, hiper-realista e estimulante, tornando-se uma cor que se destaca tanto no ambiente digital quanto no físico”, afirma o site da WGSN. A defesa da cor também se dá por sua versatilidade em diferentes estações do ano. Se uma cor clara é associada ao verão, as cores escuras e quase roxas são a cara do inverno. Como são muitas as nuances, altas são as chances de encontrá-las nas lojas. As gigantes do departamento já entenderam o apelo que a cor recebe na internet, inclusive em programas como o Big Brother Brasil, e a colocam como chamariz em suas vitrines.