Um dinossauro do tamanho de um peru. Essa é a verdadeira descrição dos velociraptors, que conquistaram fama mundial ao fazer o papel de vilão principal do filme “Jurassic Park”, de Steven Spielberg. Se a revelação despedaçou suas melhores fantasias pré-históricas, não se preocupe demais. Cientistas querem começar a pesquisar um “primo bombado” dele, o utahraptor, capaz de botar mais medo até do que os maiores personagens de cinema. Como, porém, estão com pouco dinheiro para fazer o estudo, decidiram lançar mão de uma campanha de financiamento coletivo para levantar a verba. “Vai ser o primeiro dos grandes raptors sobre o qual sabemos alguma coisa”, disse à ISTOÉ o paleontólogo James Kirkland, chefe do projeto. “É um animal muito especial.”

MITO No filme de Steven Spielberg, dinos ganharam versão “bombada”

A confusão sobre a aparência dos velociraptors começou com o escritor Michael Crichton, autor do livro que inspirou a produção de Hollywood. Ele leu um manual que, equivocadamente, dizia que os pequenos velociraptors (meio metro de altura) e os médios deinonychus (um pouco maiores, mas menores que uma pessoa) eram a mesma coisa. Os animais até se pareciam, porém viveram com milhões de anos de diferença. Crichton descreveu os deinonychus, mas os chamou de velociraptors. Spielberg foi além e filmou criaturas ainda mais colossais, maiores que o ser humano. Ciente do problema, classificou-as somente como raptors, genericamente. A essa altura, no entanto, o nome velociraptor já havia se consolidado, e o público rapidamente o associou ao dinossauro de Spielberg.

Areia Movediça

Surpreendentemente, em 1993, enquanto “Parque dos Dinossauros” era feito, um novo membro da família dos raptors foi encontrado, o utahraptor (o nome veio do fato de ele ter sido achado em Utah, EUA). Coincidentemente, era quase idêntico ao raptor gigante que aparecia no filme. Na época, quase nada se sabia sobre ele. Em 2001, cientistas escavaram fósseis de vários utahraptors num bloco de nove toneladas, que há 124 milhões de anos foi um poço areia movediça onde eles ficaram aprisionados. Por falta de dinheiro, os pesquisadores conseguiram analisar apenas sua superfície, encontrando, só ali, cerca de dez utahraptors bebês, adolescentes e adultos. Há um ano, lançaram a campanha de financiamento para levantar mais verbas e analisar o interior da rocha. “É a descoberta da minha vida”, afirma Kirkland. “Precisamos de equipamentos e de uma pessoa especializada para extrair os dinossauros do bloco.”

De início, os pesquisadores pedem 100 mil dólares. Por enquanto, conseguiram 35 mil, o que foi suficiente para cobrir alguns dos gastos mais fundamentais. A equipe não conseguiu acesso a fundos públicos, mas ainda está atrás de patrocínio de empresas privadas. O plano é terminar os estudos e, no futuro, lançar um documentário sobre a descoberta – além de, quem sabe, abrir um parque no local onde os dinossauros foram encontrados, com os fósseis como atração principal. “Vou trabalhar nesse bloco enquanto estiver vivo”, diz Kirkland. “E é possível que meus netos continuem descobrindo novas coisas nele.”

Penas assassinas

Mesmo os fãs mais devotos dos dinossauros às vezes não aceitam e ideia de que essas criaturas tinham penas como as das aves – seus descendentes evolutivos, afinal. O fato é extensivamente comprovado pela ciência, e os utahraptors não eram exceção. Para o paleontólogo James Kirkland, isso não faz deles animais menos aterrorizantes. “Imagine um bicho do tamanho do Arnold Schwarzenegger, camuflado na vegetação, saltando sobre você”, diz. “Mesmo com penas eles eram ‘demais’, feitos para matar.”