A Venezuela, o país com as maiores reservas de petróleo do mundo, celebra eleições regionais neste domingo (15) e em meio a uma das piores crises de sua história.

Um total de 18 milhões dos 30,6 milhões de venezuelanos estão habilitados para eleger por quatro anos os governadores dos 23 estados, dos quais o chavismo controla 20 atualmente.

1. Crise política

O tenente-coronel do Exército Hugo Chávez chegou ao poder em 1999 por meio de eleições, após um golpe frustrado. Com uma proposta de refundar o Estado, polarizou o país ao conceber um sistema socialista.

Faleceu em março de 2013 e seu herdeiro político, Nicolás Maduro, foi eleito um mês depois para um mandato de seis anos.

Em meio a uma severa crise econômica, a oposição obteve em dezembro de 2015 a maioria de dois terços no Parlamento, acabando com 18 anos de domínio chavista.

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Explodiu, então, um conflito de poderes no qual o Tribunal Supremo de Justiça, acusado de servir ao chavismo, limitou as funções legislativas.

A oposição tentou revogar em 2016 o mandato de Maduro com um referendo, mas as autoridades de Justiça e eleitorais suspenderam o processo.

No fim daquele ano, com o acompanhamento do Vaticano, ambas as partes iniciaram um diálogo que fracassou.

O confronto de poderes desatou entre abril e julho protestos que exigiam a saída de Maduro, com um balanço de 125 mortos.

Maduro convocou a eleição de uma Assembleia Constituinte, da qual a oposição não participou por considerá-la fraudulenta e que ficou composta exclusivamente por governistas. Funcionará com suprapoderes até 2019.

Em setembro, governo e oposição retomaram na República Dominicana contatos para um diálogo, mas a oposição o congelou.

2. Crise econômica

A Venezuela tem reservas provadas de petróleo de quase 300 bilhões de barris, as maiores do mundo. Produz 1,9 milhão por dia, e sua exportação responde por 96% de suas divisas.

Um ferrenho controle de câmbio está em voga desde 2003 monopolizando as divisas no governo.

A queda dos preços do petróleo em 2014 aprofundou a crise com o desabastecimento de produtos básicos e a inflação mais alta do mundo.

O FMI projeta uma inflação de 652,7% em 2017 e 2.349,3% para 2018, além de uma queda do PIB de 12% para 2017 e de 6% para 2018.


As reservas externas em outubro de 2017 ficam em 9,913 bilhões de dólares, segundo o Banco Central.

3. Crise social

Um trabalhador com salário mínimo ganha (com vale-alimentação) 325.544 bolívares, que equivalem a 97 dólares na taxa oficial e 11 dólares no mercado negro, referência que rege a maioria dos preços na Venezuela.

Uma cartela com 30 ovos custa em média 45.000 bolívares e um quilo de carne, 50.000.

Em 2016 a taxa de pobreza foi de 18,3% e a de extrema pobreza de 4,4%, segundo o governo.

Mas o estudo Pesquisa sobre Condições de Vida na Venezuela, de universidades e de uma ONG, calculou em 30,26% a taxa de pobreza e 51,51% a de extrema pobreza em 2016.

Segundo especialistas, os venezuelanos também sofrem sérios problemas emocionais e psicológicos, tanto pelas dificuldades econômicas, como pela insegurança pessoal e a separação das famílias pelas migrações.

4. Crise de saúde

Desde 2014 registra-se a falta de cerca de 100 remédios essenciais.

A escassez de medicamentos é de 85%, segundo a Federação Farmacêutica, chegando a 95% nos remédios para doenças crônicas como o câncer.

Enfermidades como a difteria, erradicada há 24 anos, reapareceram. Se somam à tuberculose, malária e o sarampo.

A desnutrição em crianças menores de cinco anos aumentou de 54% em abril para 68% em agosto, revelou a ONG Cáritas, vinculada à Igreja Católica.


A mortalidade infantil na Venezuela aumentou 30,12% no ano passado em relação a 2015, ao registrarem 11.466 mortes de crianças de 0 a 1 ano, segundo cifras oficiais.

5. Crise de insegurança

A taxa de homicídios é de, em média, 70,1 para 100.000 habitantes (2016), quase nove vezes maior do que a média mundial.

A ONG Observatório Venezuelano de Violência (OVV) afirma que a Venezuela fechou 2016 com 28.479 mortes violentas (91,8 para cada 100.000 habitantes).

Essa taxa converte o país em um dos mais violentos do mundo sem conflito bélico, entre países como El Salvador, Guatemala e Honduras.


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