Coluna: Ricardo Kertzman

Ricardo Kertzman é blogueiro, colunista e contestador por natureza. Reza a lenda que, ao nascer, antes mesmo de chorar, reclamou do hospital, brigou com o obstetra e discutiu com a mãe. Seu temperamento impulsivo só não é maior que seu imenso bom coração.

A vacina russa contra o vírus chinês na Bolsolândia

A vacina russa contra o vírus chinês na Bolsolândia

O brasileiro médio deve ser o cidadão mais “anestesiado” do mundo. Tão acostumado com tragédias diárias, muito pouco (ou quase nada) se importa com tragédias sazonais. A pandemia de Covid-19 é a prova disso. As enchentes anuais, também.

Contamos os contaminados em milhões e os mortos em milhares; ou centenas de (até o final do ano, com certeza), mas nada parece assustar aquele que “não desiste nunca”. Afinal, mortos nos corredores dos hospitais não são novidade, como novidade não são… os mortos!

Como doença e luto são assuntos chatos, vamos tocando nossas vidas ideologizando o coronavírus. Assim, podemos exercitar os músculos e a língua. Se for possível brigar e xingar, criando falsos embates em torno do que nem deveria ser discutido, muito melhor.

A vacina russa é desdenhada pelo mundo ocidental, afinal é russa. Mas e a chinesa? Ora, as teorias não diziam que fora a China a criadora do vírus? Vacina boa é vacina testada, aprovada e certificada. Pouco importa sua nacionalidade.

Mas na Bolsolândia, não. O que importa é o político importador. Se for o Bolsonaro, a vacina de Oxford é que é a boa. Se for o Doria, então será a chinesa. Já a russa procura um padrinho para chamar de seu e conquistar seu lugar ao sol, ou melhor, na pele dos brazucas.

Por aqui, a opinião do mundo científico relevante é relativa. Se a FDA (Food and Drug Administration) diz que a cloroquina não funciona, então ela está errada – ou certa – de acordo com o freguês. Anotem aí: assistiremos ao mesmo com a vacina “made in Putin”.

Se os russos querem garantir uma graninha por aqui, sugiro que falem mal da China (chamando o corona de “vírus chinês”), preguem a favor da cloroquina, digam que a doença é só uma gripezinha e, sobrando tempo, apostem que a Terra é plana e que o Olavão tem razão. É feijão sem bicho! Até as emas do Alvorada serão vacinadas, hehe.