A formatura dos primeiros 35 jovens negros cotistas no curso de Direito do Largo de São Francisco na semana que passou aponta para mais uma conquista relevante na nossa agenda de inclusão, fortalecimento e igualização de oportunidades para os negros no ensino superior. Aponta, confirma e consolida a nova fisionomia dos muitos espaços públicos e privados, nos quais os negros por meio das mais diversas ações afirmativas tem acessado, são acolhidos e as transformam em situação de regularidade e naturalidade. E, comprova com assertividade a importância do sistema de cotas para equiparação de oportunidade entre negros e brancos na sociedade brasileira.

Com as cotas e demais ações os negros chegaram à magistratura, Forças Armadas e Ministério Público. Também estão nos cargos de prestigio das estatais e, agora, com o governo Lula, à frente de ministérios de envergadura e, principalmente, com orçamento. Não é tudo, como se sabe. Mas, é um prenúncio auspicioso para que o País continue estimulado e compromissado a investir e fazer a coisa certa.

Deve ocorrer, ainda, o complemento: medidas afirmativas que garantam a presença dos negros entre os docentes

Foram necessários quase duzentos anos de jornada histórica para que a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco pudesse perfilar entre os seus formandos mais do que um ou dois jovens negros. Da mesma maneira, foi necessária muita pressão social e do Movimento Negro para que a USP pudesse aprovar as cotas para negros no seu corpo discente, medida anteriormente aprovada por todas as demais universidades públicas paulistas. Continuam faltando ainda às medidas afirmativas complementares que garantem a presença dos negros entre os docentes no ambiente da pesquisa e mesmo na alta gestão universitária. Trata-se de um desafio à Universidade de São Paulo e as outras universidades públicas. Infelizmente, o copo continua meio vazio.

Os 35 formandos da turma que tinha um total de 191 alunos, todavia, entram para a história como o símbolo máximo de um novo tempo de mudança e transformação da sociedade, da educação superior e mesmo do povo brasileiro. A USP, em outras palavras, deu efetivo passo para reduzir o atraso da instituição, algo que deve reverberar por todo o Brasil e permitir a fundamental construção de inovadores paradigmas educacionais. Por fim, a Universidade de São Paulo reconheceu a necessidade de mudança e, agora, cria a Pró-Reitoria de pertencimento e diversidade. Forma extraordinária e pioneira de promover fantástico projeto para formação de pós-doutores negros. Tais fatos demonstram que a população negra pode estar onde quiser estar e mais: os espaços dedicados ao ensino devem ser plurais e democráticos para que todas as etnías caibam neles.