O que dizer sobre uma universidade na qual estudaram e se diplomaram vinte e oito primeiros-ministros do Reino Unido, dentre eles o atual, Boris Johnson? Tudo bem, talvez a leitora e o leitor torçam o nariz aos políticos como parâmetros de proficiência, uma vez que, devido à própria natureza de suas atividades, nem sempre eles enobrecem o berço de formação intelectual. Vamos, então, ao Prêmio Nobel?! O que dizer de uma universidade que traz a tradição de ter dado a primeira aula em 1096, que se chama Oxford e está localizada na cidade inglesa homônima, já tendo contemplado o mundo com trinta ganhadores dessa que é a mais cobiçada láurea em todo o planeta? Agora não restam dúvidas: a Universidade de Oxford é um dos principais templos de pesquisa, conhecimento e aprendizagem – além da imponência e austeridade de sua arquitetura, padronizando o conjunto de trinta e oito núcleos de ensino distribuídos no centro medieval da cidade à qual o poeta Matthew Arnold chamou de “local dos pináculos sonhadores”. Agora, a boa notícia: essa universidade abrirá duas unidades no Rio de Janeiro, as primeiras da América Latina — uma delas no Instituto Carlos Chagas e a outra no Centro Cultural do Ministério da Saúde.

LABORATÓRIO Cientistas no novo centro de estudos no Rio de Janeiro: maior reconhecimento internacional ao País (Crédito:Itamar Crispim/Fiocruz)

O nome Oxford frequentou bocas e ouvidos dos brasileiros nos últimos tempos, associado à vacina da farmacêutica AztraZeneca. Quem atuou diretamente na pesquisa desse imunizante foi a infectologista e pediatra brasileira Sue Ann Costa Clemens. É ela que também está à frente da abertura das unidades de ensino e pesquisa da universidade britânica no Rio de Janeiro. “A idéia é oferecer estágios mesclados entre a Oxford, a Universidade de Siena e instituições brasileiras”, diz Sue Ann. Por que Siena? Aqui fica demonstrado, mais uma vez, o talento da cientista brasileira: além de professora de Saúde Global na Universidade de Oxford, ela criou o Programa de Mestrado em Vacinologia da Universidade de Siena, na Itália. Mais: atua como conselheira da Fundação Bill e Melinda Gates, pela qual criou 22 centros de pesquisas sobre Covid na América Latina. Mais ainda: cabe a Sue Ann o mérito de termos, em tão curto espaço de tempo, vacina contra o coronavírus. Aqui no Brasil, a Oxford terá uma unidade destinada a doenças infecciosas, enquanto o outro setor se voltará à vacinologia. Lecionarão professores e doutores brasileiros e estrangeiros, presencialmente, sendo que dez deles integram o corpo docente da instituição britânica. Outros 150 permanecerão em seus laboratórios na Inglaterra, mas dando consultoria direta ao Brasil. O Instituto Carlos Chagas foi escolhido para uma das sedes porque é um dos melhores do País. O Centro Cultural da Saúde, que pertence ao ministério, veio em um segundo plano.

DOCENTE A eminente infectologista brasileira Su Ann Clemens está à frente do projeto: formação de mestres e doutores (Crédito:Divulgação)

Além da pesquisa no campo de imunizantes, ambas as unidades, por meio de intercâmbios, se dedicarão a estudos de cardiologia, câncer, ortopedia, traumatologia e inteligência artificial. A unidade principal é a que foi instalada no Instituto Carlos Chagas e começará a operar no início do ano que vem. Esse foi, assim, o embrião da Oxford no Brasil. Quando o Ministério da Saúde soube que tal fato estava ocorrendo, e que a pasta ficaria mais marginalizada do que já anda com seu negacionismo e inoperância, correu a oferecer o Centro Cultural para que nele fosse montada uma espécie de “filial”. É aí que se desenvolverão estudos e pesquisas no setor das enfermidades cardíacas. “A intenção é fazermos da parceria da Oxford com o Brasil um centro de pesquisa clínica que conquiste reconhecimento em todo o mundo”, diz Sue Ann. “No campo das vacinas, a unidade do Instituto Carlos Chagas é um grande passo para adquirirmos nossa própria tecnologia e produzirmos imunizantes em todas as suas etapas”.

Os status dos cursos ainda estão sendo discutidos, embora já esteja certo que nos núcleos do Rio de Janeiro haverá mestrado, doutorado e atualizações de disciplinas específicas. O desembarque da prestigiada Universidade de Oxford, a segunda mais antiga do mundo (a primeira é a Universidade de Bologna), é o melhor contraponto que o Brasil pode ganhar no campo da inteligência no momento em que a estultice do governo federal joga o ensino e as pesquisas no lixo.