O freio ao avanço nacionalista, que ameaça a unidade da Europa, foi a melhor notícia das eleições europeias que se encerram no último domingo de maio. O risco extremista foi superado pelo crescimento dos verdes e por forças que defendem a integridade do bloco. O momento político exacerbado em vários países da região tornou esse pleito o mais importante em décadas. A taxa de comparecimento, de 51%, foi a maior em 20 anos.

Com uma plataforma crítica aos partidos tradicionais e uma agenda jovem que inclui ação climática, liberdades civis e justiça social, os verdes triunfaram sobretudo na Alemanha, país que detém o maior número de cadeiras no Parlamento Europeu. Eles se tornaram a segunda maior força partidária na representação do país.

A centro-direita e a centro-esquerda, representados pelas coalizões Partido Popular Europeu e Aliança dos Democratas Progessistas, foram os grandes derrotados. Pela primeira vez, não terão a maioria das cadeiras. Mesmo assim, poderão manter a hegemonia em defesa da integração europeia, aliando-se aos verdes e aos liberais pró-europeus, que cresceram. Essa queda se deu principalmente pela debilidade do presidente francês Emmanuel Macron e pelo declínio da influência da chanceler conservadora Angela Merkel, na Alemanha, assim como de seus aliados social-democratas.

Nacionalistas e eurocéticos avançaram, como previsto, mas sem a força que se temia. Chegarão a quase um quarto do Parlamento. Na França, triunfou o partido de extrema-direita de Marine Le Pen, embora não tenha conseguido surfar na onda dos “coletes amarelos”, anti-Macron. Na Itália, a Liga do vice-premiê italiano Matteo Salvini teve uma vitória inédita e, na Hungria, o partido do primeiro-ministro Viktor Orbán venceu com folga. Mas a extrema-direita recuou na Alemanha, Holanda e Espanha.

Contenção

O Parlamento Europeu, muitas vezes desacreditado, tem um poder relativo dentro do continente. Serve sobretudo para referendar as forças políticas nos países e apontar as tendências difusas no bloco. Nesse sentido, é positivo que o discurso populista e anti-imigração tenha sido contido, apesar de se mostrar forte. Num momento de esgotamento econômico, acirramento xenófobo e com o cerco às democracias liberais, é um alento que a união concebida após a Segunda Guerra sobretudo pela força da Alemanha e França esteja servindo de contenção ao extremismo — essa foi uma das grandes razões da sua criação.

Novo mapa
O desenho do poder no Parlamento Europeu depois do pleito

Sobem
Verdes
Tornaram-se a segunda força entre os alemães e tiveram bons resultados na França, Finlândia e Dinamarca
Direita radical

Na Itália, a Liga do vice-premiê italiano Matteo Salvini teve triunfo inédito. Na França, a agremiação de extrema direita de Marine Le Pen venceu

Partido do Brexit
A recém-criada agremiação do ultranacionalista Nigel Farage foi o grande vitorioso na votação britânica. O Reino Unido participou das eleições porque não conseguiu concluir seu desligamento da UE

Descem
Centro-direita e centro-esquerda
Perderam cadeiras, mas continuam sendo o maior bloco dentro do Parlamento. Sem maioria, precisarão negociar com os verdes e liberais para manter a hegemonia pró-integração