Foi a mais erótica das cenas dirigidas por John Huston – e jamais chegou aos olhos do público. No set do hoje clássico “Os Desajustados”, filme de 1961, a ingênua e sedutora personagem Roslyn Taber, uma cantora de salão vivida por Marilyn Monroe, divide a cama com o decadente caubói Gay Langland, papel de Clark Gable – o galã que viria a morrer de infarto apenas dez dias após o término das filmagens. A tensão erótica entre os dois ia crescendo até chegar ao clímax, com Marilyn se despindo do lençol que a cobria para deixar os seios à mostra – e por sua própria vontade, já que a nudez não estava no script original. A ousadia era tamanha que o diretor decidiu deixar a cena de fora da montagem final. Os negativos, contudo, não foram destruídos. O material veio à tona durante as pesquisas para uma nova biografia da estrela, “Marilyn Monroe: The Private Life of a Public Icon”, de Charles Casillo, lançada na semana passada. A cena ficou nos arquivos do produtor do filme Frank Taylor, que morreu em 1999. Casillo a encontrou com o filho de Frank, Curtice, hoje com 71 anos. Ainda inéditas, as imagens de Marilyn nua se tornaram o mais novo fetiche envolvendo a atriz.

Com roteiro de Arthur Miller, à época casado com Marilyn, “Os Desajustados” foi o último longa-metragem que ela concluiu. Morta poucos meses depois, em agosto de 1962, ela havia sofrido um aborto anos antes que a impediria de engravidar. Àquela altura, ela havia estrelado as comédias “Os homens preferem as loiras” (1953) e “Quanto mais quente melhor” (1959), e queria provar seu talento também para papeis dramáticos – exatamente o caso da personagem Roslyn, escrita sob medida pelo marido. Por mais que tivesse à altura para o desafio, sua energia sexual encobria qualquer diálogo. Marilyn havia sido a primeira “coelhinha” da revista “Playboy”, estampando sua nudez na capa e num ensaio do fotógrafo Tom Kelly feito em 1949 pela qual recebera US$ 50. As fotos foram publicadas anos depois, quando ela já estava no auge da popularidade. A tiragem de 50 mil exemplares da edição inaugural da revista esgotou rapidamente e se tornou um item de colecionador, embora a estrela jamais tenha assinado uma autorização para que as fotos fossem publicadas e nem recebido participação nos lucros gerados pelas vendas. Ao morrer, no ano passado, Hugh Heffner, fundador da “Playboy”, foi enterrado ao lado de Marilyn, em uma cripta pela qual havia pago US$ 75 mil.

Tabu

Quando a popularidade de Marilyn estourou, nos anos 1950, a moral era outra e exibir o corpo nu permanecia um tabu tanto para as próprias atrizes quanto para o público. Mas Marilyn já havia rompido algumas barreiras. A cena de “O Pecado Mora ao Lado” (1955), em que ela deixa a calcinha à mostra enquanto o vento soprado de uma saída de ar do metrô levanta seu vestido, foi demais para os nervos do então marido, o jogador de basebol Joe DiMaggio. A imagem foi tão poderosa que colou na figura de Marilyn a ponto de, em 2011, o vestido usado por ela ter alcançado o valor de US$ 4,6 milhões em um leilão de figurinos de Hollywood. A sequência que gerou o divórcio era a mais icônica – e maliciosa – de Marilyn até agora. Ao filmar “Os Desajustados” ela parecia querer deixar para trás a imagem de símbolo sexual que já lhe custara um casamento. Com a descoberta da inédita cena de nudez, ganha novo fôlego o mito da loira fatal que marcou para sempre a história do cinema com sua beleza provocante e, acima de tudo, a naturalidade com que deixava os homens boquiabertos.


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