O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sinalizou a aliados ter resolvido o imbróglio da Esplanada e deve divulgar a escalação completa da equipe ministerial nesta quinta-feira (29). O anúncio vai simbolizar a entrada de partidos de peso na base do governo, como MDB, PSD e União Brasil — as siglas terão três ministérios, cada, segundo um mapeamento de nomes da cozinha do petista.

Por meio da acomodação das legendas no Poder, Lula espera iniciar o mandato com fôlego depois de penar na negociação com o Congresso pela aprovação da PEC da Transição, que retirou o Bolsa Família do teto de gastos e garantiu um reforço de R$145 bilhões no Orçamento Geral da União de 2023. É que, com as emendas de relator “fora de cena”, graças a uma decisão do Supremo Tribunal Federal, a concessão de espaços na Esplanada consolidou-se como a principal moeda de negociação do PT no parlamento.

Pelas cartas postas à mesa, o PSD deve ficar com os ministérios da Agricultura, de Minas e Energia e de Pesca e Aquicultura, os quais tendem a ficar nas mãos, respectivamente, dos senadores Carlos Fávaro e Alexandre Silveira e do deputado Pedro Paulo. Nos quadros do MDB, Jader Filho chefiará a pasta de Cidades e Renan Filho, a dos Transportes — Simone Tebet, como anunciado na terça-feira, assumirá o Planejamento.

O União Brasil, que contava com somente dois ministérios, ampliou os ganhos. A perspectiva é a de que Elmar Nascimento, aliado de primeira hora de Arthur Lira, dê as ordens no Ministério do Desenvolvimento Regional, apesar de ser alvo de uma série de torpedos de petistas. No Turismo, a bolsa de apostas aponta para Juscelino Filho e, nas Comunicações, para Paulo Azi. O espaço “extra” surgiu depois de o Podemos negar um convite de Lula para integrar o governo.

Lula recebeu de emissários a garantia de que, a partir do acordão, terá os votos necessários para a aprovação de projetos de interesse do governo na Câmara e no Senado — a futura gestão precisará dos apoios para destravar uma série de propostas classificadas como prioritárias, a exemplo da reforma tributária e da criação de uma nova âncora fiscal.

Pairam dúvidas, porém, sobre como as legendas cumprirão as promessas, uma vez que abarcam uma série de críticos do presidente eleito. O União Brasil, por exemplo, abriga nomes como Sergio Moro, algoz do petista, e Kim Kataguiri. Os dois são categóricos ao negar um “alinhamento automático”. “Se o partido respeitar minha independência de fazer oposição, fico. Se desrespeitar, saio”, disse Kim à ISTOÉ.