Hoje o grande sonho de qualquer empreendedor é ser um unicórnio. Uma dessas empresas que vale, só por causa do nome do bicho, mais de um bilhão de dólares.

O problema é que os unicórnios não são tão fortes como os ursos, tão leais como os cães, tão ágeis como os falcões, nem tão resistentes como os bois – os outros nomes de bicho que os investidores gostam de dar aos negócios. Unicórnio nem é de verdade. É um bicho mitológico que nunca existiu.

Mas então como é que alguém pode achar eles que eram a melhor coisa do mundo?

Quando falta menos de um mês para que a Uber, esse unicórnio que leva a gente de um lugar a outro só com um toque no celular, comece a flutuar na bolsa de Nova Iorque, o mundo financeiro se preocupa. Ao contrário do Facebook e da Amazon (as recordistas de entrada em bolsa até ao momento de empresas tecnológicas) que são monopolistas nos seus negócios, a Uber é só mais uma entre muitas soluções de transporte. Lyft, Ride, Kaptan e até a brasileira 99, disputam esse mercado com a Uber.

A competição é tão terrível, que os custos da operação, quase todos com marketing, são tão grandes que fazem negócio perder dinheiro a cada hora.

Claro que quem fica a ganhar é o usuário, recebendo viagens baratas e muitas ofertas a cada viagem, mas no médio prazo isso vai acabar. Seja pela transparência requerida na origem do dinheiro, pela aplicação de novos impostos ou pela criação de barreiras regulatórias, alguma dessas companhias, ou todas, vão ter de fechar.

A estratégia de crescimento do Vale do Silício, chamada de “blitzscaling”, não está mais funcionando. Aumentar o faturamento na base do prejuízo, apenas para ter mais clientes, só funciona se os clientes forem fiéis; e no caso da Uber, ao contrário do Facebook e da Amazon – eles não são. Vão pegar carona de quem oferecer mais.

Os números não mentem. Na véspera de sua entrada em bolsa, a Uber reportou, entre 2014 e 2018, um prejuízo de 6,8 bilhões de dólares, maior que o da varejista Amazon no início de sua trajetória. Isto apesar do crescimento de mais de 300% no faturamento nos últimos dois anos e 91 milhões de usuários em todo mundo.

Mas será que estes argumentos são suficientes para convencer os investidores que a empresa pode mirar uma valorização entre 100 e 120 bilhões de dólares? E o seu CEO, Dara Khosrowshahi, receber um bônus de 100 milhões? Essa é a questão?

Esta semana a capa da revista The Economist apresentava os tão desejados unicórnios, não como bichos mágicos, mas como uns simpáticos póneis com um “córnio” de papel.

O risco que estas empresas estão trazendo hoje para a economia mundial é tão grande que se ninguém bolar rapidamente o bicho seguinte, não é o unicórnio que vai virar pónei, é a gente que vai virar jerico.