A Turquia de Erdogan, amiga de Trump e centro do jogo diplomático

Localizada entre a Ásia e a Europa, a Turquia desempenha um papel central no jogo diplomático mundial, como demonstra a reunião desta quinta-feira (15) em Istambul entre delegações da Rússia e da Ucrânia, as primeiras negociações diretas em três anos.

Em parte graças à conexão pessoal entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e seu “amigo” e homólogo da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, Ancara também trabalha para facilitar as negociações sobre o programa nuclear do Irã ou as relações da Síria com o Ocidente.

“Nosso país se tornou um dos corações pulsantes da diplomacia da paz”, disse Erdogan na quarta-feira, depois de participar por vídeo de um encontro entre Trump e o presidente interino sírio, Ahmed al Sharaa.

Também nesta semana, o país recebe um encontro de chanceleres da Otan na cidade costeira de Antalya, no sul, e uma reunião entre o Irã e países europeus em Istambul.

E, acima de tudo, a cidade de Istambul foi proposta pelo presidente russo, Vladimir Putin, para abrigar as primeiras conversações diretas em três anos entre Moscou e Kiev.

– Conexão Trump-Erdogan –

Para os analistas, a conexão entre Erdogan e Trump reforça o papel da Turquia no tabuleiro geopolítico mundial.

“Parece que Trump gosta muito de Erdogan e que tem sentimentos calorosos sobre ele”, explicou à AFP Max Abrahams, professor de Segurança Internacional.

Após uma conversa telefônica entre os dois na semana passada, Trump disse que estava “ansioso para trabalhar com o presidente Erdogan para acabar com a guerra, ridícula mas mortal, entre Rússia e Ucrânia”.

O líder turco intensificou os contatos diplomáticos no final de semana. Ele conversou por telefone com Putin e com o presidente francês, Emmanuel Macron, que havia acabado de visitar Kiev com os governantes da Alemanha, Reino Unido e Polônia.

E nesta quinta-feira recebe em Ancara o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, que anunciou que compareceria à reunião de Istambul se Putin também viajasse, algo que o Kremlin descartou.

Aaron Stein, diretor do americano Foreign Policy Research Institute, afirma que a Turquia é “beneficiária” de sua relação com Trump.

“Ele que forçou para estabelecer conversações para um cessar-fogo e propôs um lugar, na Turquia ou na Arábia Saudita, para receber as reuniões”, disse à AFP. “Trump fala de forma muito clara: ele gosta de Erdogan”, insiste.

Uma fonte do governo de Ancara, que pediu anonimato, confirmou a afinidade entre os dois presidentes. “As últimas declarações de Trump levaram a relação a um nível mais sincero. Os dois abordam os assuntos de uma perspectiva mutuamente benéfica”, disse.

– “Epicentro da diplomacia” –

Mas a posição estratégica, geográfica e geopolítica, da Turquia também é um fator importante, aponta Nigar Göksel, do centro de estudos International Crisis Group (ICG).

“O setor de defesa turco, que está em pleno crescimento, também ampliou sua margem de manobra”, avalia o analista.

Nos últimos três anos, a Turquia conseguiu manter boas relações com a Ucrânia e com a Rússia, fornecendo drones de ataque para Kiev, mas evitando aderir às sanções ocidentais contra Moscou.

“O sucesso nestas ações também reforça a estatura internacional da Turquia e é popular internamente, servindo aos interesses políticos do governo”, disse Goksel à AFP.

O ministro ucraniano das Relações Exteriores, Andrii Sibiga, agradeceu os esforços do país após se reunir na quarta-feira com seu homólogo turco, Hakan Fidan.

“O epicentro da diplomacia mundial está hoje na Turquia, que desempenha um papel ativo de mediação. Reconhecemos isso”, escreveu no X.

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