O brasileiro tem trocado refeições por lanches. É o que escancara a pesquisa Costumer Insights 2022, da Kantar, que constatou que, hoje, um almoço sai por R$ 43,94 nas regiões metropolitanas. Um sanduíche ou salgado, por sua vez, custa R$ 10,43. O preço atrai o trabalhador, que tem mudado os hábitos alimentares – para pior, alertam nutricionistas. A região da Avenida Paulista, em São Paulo, é uma prova do levantamento. Por lá, o combo arroz, feijão e carne pode chegar a R$ 40. Já um cachorro-quente básico sai por R$ 10. A versão na baguete vale R$ 16. Na terça-feira (26), esse foi o almoço da estagiária de enfermagem Letícia do Vale, 23 anos. “Prefiro pela praticidade, sabor e custo”, justifica. “Por aqui, qualquer prato-feito é R$ 24”. Ainda segundo o estudo, na comparação entre o primeiro trimestre de 2022 e o mesmo período em 2020, o consumo de lanches aumentou 3,9% e o de refeições caiu 3,3%. Há também o dado de que elas tiveram reajuste de 21%. Os lanches subiram ficando 11% mais caros.

No bairro da Lapa, os preços não sofreram reajustes no último ano. A vendedora Maria Isabel, 72, oferece cachorro-quente simples por R$ 6,99. “O que mais sai é o de R$ 7,99, que tem bacon”, relata. O bolso fala alto nessas horas. Na terça-feira, a diarista Catia Cristina, 46, comprou um hambúrguer de R$ 10 para o filho Jonathan da Silva, 14. Para economizar, só ele se alimentou. “Tomo água e deixo para comer em casa”, conta a mãe. A mudança causada pela inflação tem efeitos na saúde.

“Um prato contém, em média, 600 calorias. São 55% de carboidratos, 20% de gorduras, 23% de proteínas,12g de fibras e 1.000 mg de sódio, além das vitaminas que variam com os legumes e verduras”, declara a nutricionista Raquel Righi, da Clínica de Nutrição e Qualidade de Vida. “Já um hambúrguer com bacon e queijo tem, em média, 700 calorias, sendo 60% de gorduras, 23% de carboidratos e 17% de proteínas. A quantidade de fibra cai para 1,8g e o sódio sobe para 1.800 mg, além da perda de vitamina”.

SEM REFEIÇÃO Catia comprou hambúrguer apenas para o filho (Crédito:Keiny Andrad)

A especialista em Terapia Nutricional, Flavia Auler, adverte que deficiência de ferro e zinco, por exemplo, pode resultar em queda de cabelo e unhas fracas. Para quem tem o “comer fora” como única opção, a dica é “evitar frituras”. “Opte por assados, como pão de queijo, empanadas e esfirras”, sugere ela. E não há dúvidas: a marmita ainda é a principal indicação. “Temos que aprender que cozinhar é remédio. É terapêutico pelo ato de escolher ingredientes e buscar caminhos, que são diferentes”, ressalta Jô Furlan, médico pós-graduado pela Associação Brasileira de Nutrologia.

Menos proteína

A crise diminuiu o consumo de proteína de origem animal drasticamente no Brasil. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento, o consumo per capita de carne bovina caiu de 34 kg em 2019 para 26 kg em 2021. Para profissionais, é a oportunidade de o brasileiro expandir seu cardápio. “A redução do consumo de carne por si só não é de forma alguma alarmante para a saúde pública e, sim, uma oportunidade para valorizarmos os vegetais”, defende Alessandra Luglio, nutricionista especialista em alimentação vegetariana e consultora da N.OVO Planted Based, empresa que produz alimentos à base de vegetais. A profissional propõe feijões, ervilha, lentilha, grão-de-bico e soja como substitutos. “As leguminosas são nutritivas, acessíveis e rendem muito se comparadas a qualquer carne”, diz.

PREÇO BAIXO A vendedora Maria Isabel oferece opções econômicas no bairro da Lapa, em São Paulo (Crédito: Keiny Andrade)