Se você não sabia o que é a Transnístria, também chamada de República Moldava da Pridnestróvia (um território que considera-se independente da Moldávia, mas não é reconhecido pela ONU), é sempre interessante ter referências, porque esse local, que também vive em guerra surda contra separatistas, pode ser visto como outra possível porta de entrada de Vladimir Putin na Ucrânia. Da mesma forma que os rebeldes da região de Donbass serviram para o presidente russo “proclamar as repúblicas populares” de Donetski e Luganski, e justificar o início da invasão à Ucrânia pelo Leste, pelo Oeste essa faixa alongada do mapa registra conflitos espremidos na fronteira com a Moldávia.

A Transnístria fazia parte do Império Russo no século 18. Com a Revolução de 1917, passou ao domínio da URSS e, em 1924, foi incorporada à República Socialista Soviética da Moldávia. Em 1941, no início da Segunda Guerra, a região moldava era ocupada pela Romênia (por isso a população prefere o nome russo Pridnestróvia à Transnístria, de origem romena) e teve campos de concentração, onde foram mortos judeus ucranianos e romenos, que haviam sido deportados. Até que, em 1944, o “Exército Vermelho” da URSS tomou o território, enviando famílias ricas para Cazaquistão e Sibéria.

Diferenças étnicas, linguísticas e culturais levaram a uma guerra civil com a Moldávia no fim de 1990, com os separatistas ajudados por russos e cossacos. Depois de quatro meses, o exército soviético derrotou os moldavos e a Transnístria deu posse a um governo próprio. Com o desmantelamento da URSS no ano seguinte, foi o território foi “libertado” e tornou-se independente. País pobre, desperta a curiosidade de turistas até pelos aparatos soviéticos que ainda mantém e tem uma clara disposição pró-Rússia. Seu governo autoritário e repressor está dentro dos moldes da extrema-direita, que perigosamente cresce mais e mais na Europa.

Ao Norte, a aliada Belarus se mantém dando respaldo à Rússia e até já entrou oficialmente na guerra com envio de soldados à linha do front na Ucrânia. Ao Leste, a porta está aberta por Donbass e, ao Sul, pelo mar, através da Criméia e portos do Mar Negro, como Odessa. Com a Transnítria pelo Oeste, se Putin precisar estaria praticamente fechado o cerco à Ucrânia.