“Enquanto não surgir uma vacina, o afastamento tem de ser respeitado. Por isso, as empresas estão se organizando para não ter mais do que 50% do pessoal de volta” Ivo Wohnrath, CEO da Athie Wohnrath (Crédito:Evandro Monteiro)

A chegada do coronavírus abalou não só a saúde das pessoas, mas chacoalhou todas as certezas econômicas e a rotina profissional. A pandemia acelerou mudanças que vinham sendo anunciadas, mas que nunca se concretizavam, especialmente sobre o trabalho remoto. Mas o que era impensável antes, agora se tornou realidade. Empresas gigantes que resistiam em colocar funcionários trabalhando à distância descobriram, na marra, que a solução emergencial se mostrou mais eficiente do que se pensava. Por isso, muitas companhias já anunciam que vão estender o home office até o final do ano ou indefinidamente. Uma decisão que já começa a ter impacto no mercado imobiliário, revertendo a tendência anterior de residências pequenas e escritórios grandes. Cada vez mais especialistas dizem que as pessoas vão optar por espaços mais confortáveis em casa e os escritórios se tornarão lugares mais colaborativos para troca de experiências e informações, em moldes parecidos aos dos coworkings popularizados pelas startups.

Há duas palavras-chave no mercado neste momento: flexibilidade e cautela. Assim, o funcionário, junto com o empregador, pode decidir ficar em casa ou no escritório, ou parcialmente em cada um desses locais, dependendo das demandas. “Estamos trabalhado com várias possibilidades e ouvimos os funcionários para estabelecer até mesmo idas ao escritório sem horário fixo, para evitar horários de pico”, explica o vice-presidente global de Gente e Cultura do Grupo Stefanini, Rodrigo Pádua. Segundo ele, 90% dos 14 mil funcionários estão trabalhando em casa e, ao contrário do que se imaginava, o serviço remoto não reduziu o engajamento do pessoal. Pelo contrário. A produtividade subiu até 10%, sem as perdas de tempo com deslocamentos. Por isso, a empresa se prepara para ter 50% do seu pessoal em home office.

Novas rotinas

O mesmo caminho é seguido por outras corporações. Nesta semana, a Petrobras anunciou que vai manter metade da equipe em casa permanentemente, mostrando que vai repensar o conceito de escritório. Desde março, a petroleira mandou para casa até 90% de seus 21 mil funcionários da área administrativa, diante da pandemia. Segundo a empresa, a experiência se mostrou bem sucedida em termos de produtividade e revelou oportunidade de economia com escritórios.

Com tantas corporações mudando seus planos, a demanda por reformas em escritórios cresceu na Athie Wohnrath. A empresa de arquitetura preparou até uma cartilha para organizar a volta, de forma gradual. Para isso, estão previstas modificações de layouts e até de mobiliários, com mesas mais distantes e até com rodinhas para permitir várias configurações. “Enquanto não surgir a vacina, o afastamento tem de ser respeitado. Por isso, muitos não cogitam ter mais do que 50% do pessoal de volta”, diz o CEO Ivo Wohnrath. A diretora de Projetos e Consultoria do Hospital Albert Einstein, Anarita Buffe, confirma que o distanciamento é mesmo um dos aspectos mais importantes em um plano de volta ao trabalho. Segundo ela, há muitas variáveis que precisam ser consideradas desde a natureza do negócio (se é uma indústria ou um escritório) até a estrutura. “A abordagem precisa ser ampla para garantir a segurança”, explica.

Diante de tantas exigências, a multinacional de seguros AON resolveu não só colocar seus 1,5 mil funcionários em home office como também rever seus espaços e chegou à conclusão de que, para garantir segurança e flexibilidade, a saída seria mudar de escritório. O objetivo foi chegar a um ambiente que ampliasse a cultura de colaboração sem deixar de lado as questões de saúde. “Buscamos um equilíbrio, sempre ouvindo o desejo do pessoal. Por isso, chegamos a um ambiente híbrido”, diz o presidente da AON no Brasil, Marcelo Homburger. Para conseguir isso, a corretora de seguros trocou um escritório de 600 m2 por um de 2,6 mil m2 para evitar aglomerações. “Vamos voltar em ondas, porque existe muita incerteza”, diz. Incerteza e insegurança são as marcas destes tempos de pandemia. E o desafio é entender como será o novo normal.