Para que a luta contra toda e qualquer segregação racial seja vitoriosa no mundo há uma condição indispensável: Ela tem de sair de seus respectivos guetos e ganhar a dimensão de uma ação em nome da democracia social e dos direitos civis. Esse tema voltou a ser comentado em diversos países, na semana passada, devido à polêmica envolvendo o nome de Amanda Gorman, a poeta “magrela e preta de 23 anos” (como ela própria se definiu), que brilhou na posse do presidente norte-americano, Joe Biden. Na ocasião, Amanda declamou a poesia de sua autoria “The Hill We Climb” (“A Colina Que Nós Subimos”, em tradução livre). Parece que o mundo editorial não entendeu o que Amanda quis dizer. Um trecho de seu poema frisa o seguinte: “Para nos concentrarmos no futuro, devemos antes de mais nada deixar de lado nossas diferenças”. A editora holandesa Meulenhoff convidou a tradutora Marieke Lucas Rijneveld, uma das mais conceituadas do planeta, para verter a poesia. A jornalista e militante da causa negra, Janice Deul, metralhou com críticas o fato de Marieke, uma mulher branca, traduzir uma mulher preta. Aí está o erro de sectarismo pelo avesso: O que deveria contar não é a cor da tradutora, mas, sim, a sua competência — e isso Marieke tem de sobra, tanto que é a mulher mais jovem a ter recebido o prêmio Booker International. Ou seja: Fez-se com a tradutora o contrário daquilo que a jovem guerreira Amanda propõe. O mundo ideal será aquele em que branca traduzirá negra e negra traduzirá branca, o mesmo ocorrendo com as demais etnias. “Perdemos uma imensa oportunidade de dar aos holandeses a obra de Amanda em nosso próprio idioma”, diz um dos diretores da editora Meulenhoff.

ANP MAG/ANP via AFP

Trecho do poema “The Hill We Climb” Para nos concentrarmos no nosso futuro, devemos, antes de mais nada, deixar de lado as nossas diferenças

Coração aberto

“Teria sido uma tarefa, uma missão e uma conquista manter vivos a força, o estilo e o tom de Amanda Gorman. Ainda desejo que suas ideias alcancem o maior número de leitores possíveis e abram mais corações contra os preconceitos” Marieke Rijneveld, tradutora

MÚSICA
“Vou colecionar mais um tamanco”

TRABALHO Chico, Tom e o manuscrito de “Piano na Mangueira”: Seriedade e riso (Crédito:Monique Cabral )

Não há dúvidas de que um mero esboço de uma composição de Chico Buarque com Tom Jobim possui grande valor histórico. O manuscrito da última parceria de ambos (Tom morreu 1994), “Piano na Mangueira”, naturalmente desperta interesse maior ainda. Na semana passada, o manuscrito da letra foi vendido por R$ 30 mil — é claro que está longe de ser uma fortuna, mas o valor documental para quem estuda MPB é imensurável. As anotações nos versos mostram que gente como Chico e Tom, dotados de excepcional talento, podem se dar ao luxo de trabalhar sério e brincar ao mesmo tempo. Um exemplo é a longa “discordância” sobre um simples “já”: Chico queria “já mandei subir o piano pra Mangueira”, e Tom insistia em “mandei subir (…)”. Na hora de gravar, Tom intencionalmente esquecia o “já” para provocar o amigo. Melhor ainda foi a “divergência” na composição “Retrato em Branco e Preto”. Chico escreveu: “vou colecionar mais um soneto / outro retrato em branco e preto (…)”. Só para divertir, Tom queria “retrato em preto e branco”. Chico não hesitou: “vou colecionar mais um tamanco / outro retrato em preto e branco (…)..

Divulgação

POLÍCIA
“Dr. Jairinho” é preso, acusado de ter matado o garotinho Henry Borel

INVESTIGADO “Dr. Jairinho” no momento de sua prisão: Segundo amigos, histórico de violência (Crédito:Divulgação)

Sob as suspeitas de ameaçarem testemunhas e terem assassinado o garotinho Henry Borel Medeiros, de quatro anos, a mãe da criança, Monique Medeiros, e seu namorado, o vereador Jairo Souza Santos Júnior (“Dr. Jairinho”), foram presos na quinta-feira 8. A criança foi morta há um mês, com diversas lesões (inclusive rompimento do fígado), no apartamento em que morava com a mãe, no Rio de Janeiro. Diversas pessoas ouvidas pela polícia afirmaram que “Dr. Jairinho” tem um histórico de “ser extremamente violento”. Segundo o delegado Henrique Damasceno, o vereador agrediu o menino até a morte e Monique foi conivente.