A falta de propostas consistentes dos presidenciáveis para lidar com o rombo das contas públicas, aliada ao panorama internacional, com políticas protecionistas dos EUA e desconfiança de investidores globais com as economias emergentes, tem tudo para criar um ambiente de extrema turbulência desde os primeiros dias do próximo mandato presidencial. Essa conjugação de fatores negativos preocupa mais os analistas do que o perfil ideológico do vencedor nas urnas.

Bolsonaro fala em reduzir 20% da dívida com a venda de estatais; Ciro quer reformar a Previdência, baixar juros e cortar gastos; Marina é contra a emenda do teto e quer fazer reformas ao seu estilo; Haddad almeja revogar as reformas e usar investimentos públicos para reerguer a economia; e Alckmin deseja privatizar e eliminar o déficit em dois anos. Só que ninguém diz como serão feitos os cortes inevitáveis que afetarão profundamente a vida dos brasileiros comuns. Outro detalhe que os candidatos omitem é que grande parte do Orçamento da União é composto por gastos fixos, como salários e pensões.

Campanha x governo

Com um déficit público de mais de R$ 160 bilhões previsto para 2018, a dimensão do ajuste fiscal seria de R$ 330 bilhões — 5% do PIB — , a fim de arrumar as contas e manter algum investimento. “O financiamento da dívida é feito pela poupança. O problema é que esse nível é baixo, por isso dependemos dos investidores estrangeiros para a compra de títulos do governo”, diz o professor do Insper Otto Nogami.

De olho no problema, o Ministério da Fazenda alertou as equipes econômicas dos presidenciáveis sobre as limitações orçamentárias e os riscos de mercado. “Não há como escapar. Uma coisa é o que se diz em campanha, outra, o que se faz no governo”, diz o professor da FGV Mauro Rochlin. Outro fator é a velocidade com que os candidatos prometem virar a economia, em dois anos. Impossível, já que o orçamento do primeiro ano é aprovado pela legislatura anterior. “Agir com mais tempo pode afastar investidores, fazer ajustes rápidos com receitas vindas de privatizações não resolveria o problema estrutural e apostar no crescimento para superar o déficit seria perigoso”, diz Stephan Kautz, economista-chefe da Neo Investimentos.

“Dependemos dos investidores estrangeiros para a compra de títulos do governo” Otto Nogami, do Insper (Crédito:Divulgação)