No momento em que o auxílio emergencial a 48 milhões de brasileiros chegou ao fim, o Ministério da Economia reafirmou que não vai estender o benefício e que não há espaço fiscal para mais ajuda — o rombo fiscal de 2020 ultrapassou assustadores R$ 700 bilhões. E Paulo Guedes decidiu viajar para descansar. É o retrato do descaso do governo Bolsonaro com a economia e a população.
No início de 2020, o ministro da Economia vendeu a ilusão de que o Brasil estava “decolando” enquanto a pandemia se alastrava. Depois, disse que R$ 5 bilhões seriam suficientes para conter a emergência. Só agiu depois que o Congresso desengavetou uma proposta de auxílio para os informais, aderindo ao projeto e aumentando o benefício para R$ 600 por mês. Agora, disse que não há mais dinheiro para a ajuda. E continua sem plano de ação, além de apresentar apostas desvairadas de “reformas” que não convencem nem os líderes do governo no Congresso.
O fim do benefício emergencial acontece no pior momento, quando a Covid-19 lota novamente os hospitais, o número de óbitos diários passa de mil e a inflação volta a mostrar as caras: o IGP-M, referência na correção de contratos e aluguéis, atingiu 23,14%, o maior valor em 12 anos. A falta de um plano convincente de vacinação também vai impedir que a economia se recupere ao longo do ano.
Bolsonaro ainda aposta que vai desviar o foco do desastre econômico com suas lorotas sobre a vacinação ou com o ataque a opositores — tripudiar com a tortura da ex-presidente Dilma faz parte de sua tática de criar factoides em momento de crise. Mas a realidade econômica, com o fim do auxílio, o desemprego em alta (mais de 14 milhões estão sem trabalho, um recorde) e a inflação corroendo o poder de compra da população vão cobrar seu preço. Bolsonaro não tem resposta para a crise e seu ministro da Economia também não.
A disputa pela direção do Congresso, em fevereiro, é mais uma desculpa para uma “virada” na agenda econômica que não acontecerá. O problema é o presidente, que também na economia quer impor sua agenda populista e irresponsável. Isso ficará claro no início do ano novo, quanto a crise econômica atingirá o bolso da população em cheio. Bolsonaro pode enfrentar a queda de popularidade criando novas crises estapafúrdias, mas tem um encontro marcado com a opinião pública.