Tentar adivinhar quem vai levar o Prêmio Nobel de Literatura é um passatempo anual favorito entre jornalistas e leitores, na mesma proporção que quase todos os anos as previsões são incorretas. Em 2020, o ano em que qualquer esquema racional das coisas foi colocado em suspensão pelas circunstâncias, não será totalmente explosivo se o prêmio – a ser divulgado nesta quinta-feira, dia 8, às 8h da manhã no horário de Brasília – for para um latino-americano, ou, mais provavelmente, para um autor africano.

A única coisa certa é que os últimos três anos foram um escândalo para a Academia Sueca, a instituição que premia o Nobel de Literatura há cerca de 120 anos (foram 116 premiados, apenas 15 mulheres). Em 2017, o marido de uma afiliada foi acusado e depois condenado a dois anos de prisão por abuso sexual, a participação de sua mulher em esquemas de vazamentos de nomes para casas de apostas foi revelada e diversos membros deixaram seus postos na entidade, que foi reformulada.

Ano passado, o então presidente Anders Olsson deu (muitas) entrevistas dizendo que a Academia sabia do seu histórico díspar em gênero e raça, bem como em estar largamente concentrada em autores europeus – para então no mês seguinte dar o prêmio a dois autores europeus, um deles, Peter Handke, um autor austríaco igualmente admirado pelos seus escritos cerebrais e odiado por seu apoio ao genocídio na Bósnia na Guerra da Sérvia.

Então, como todas as luzes apontam para que a escolha de 2020 seja uma escritora ou um escritor, digamos, mais preocupado com questões sociais ou mesmo que tenha origem fora da Europa, não é difícil que a Academia acabe escolhendo outro europeu. A russa Lyudmila Ulitskaya, o espanhol Javier Marias e a francesa Annie Ernaux aparecem entre os primeiros lugares nas casas de apostas.

Se a Academia resolver olhar para fora do seu quintal, a escritora francófona Maryse Condé (nascida em Guadalupe, no Caribe, autora de Eu, Tituba: Bruxa Negra de Salem, lançado no Brasil pelo selo Rosa dos Ventos) é forte concorrente. A também caribenha Jamaica Kincaid, das ilhas Antígua e Barbuda, há alguns dias aparecia na liderança das apostas, mas seu nome parece ter perdido força.

O escritor queniano Ngugi wa Thiong’o é figura carimbada nas apostas dos últimos anos, e em 2020 novamente. Dois escritores e uma escritora chineses (Yan Lianke, Yu Hua e Can Xue) também aparecem em diversas listas. É pouco provável que um norte-americano volte a vencer apenas quatro anos depois do prêmio de Bob Dylan, mas a escritora e ensaísta Joan Didion e as canadenses Margaret Atwood e Anne Carson não seriam escolhas surpreendentes.

Desde a vitória de Bob Dylan, em 2016, um jornalista americano – Alex Shephard, da The New Republic – ganha destaque nas redes sociais com sua lista de “favoritos”. Naquele ano, ele cravou que Bob Dylan não venceria nunca, claro. Alguns destaques da sua lista deste ano: “Haruki Murakami (uma sala de estar bem decorada com muitos móveis de faia e um impressionante sistema de som)”; “Thomas Pynchon (o vovô chapado da América)”; “Salman Rushdie (colaborador do U2)”, “Peter Nadas (a segunda exportação mais importante da Hungria, além do neofascismo)”; e, finalmente, “Karl Ove Knausgaard (o Homem da Malboro na Noruega, e também o maior importador de Malboros do país)”.

E se o leitor esperar um Nobel de Literatura brasileiro, pode anotar que, sem dúvida nenhuma, será Nélida Piñon.

Os ganhadores

2019 – Peter Handke (Áustria)

2018 – Olga Tokarczuk (Polônia)

2017 – Kazuo Ishiguro (Reino Unido)

2016 – Bob Dylan (EUA)

2015 – Svetlana Aleksiévitch (Rússia)

2014 – Patrick Modiano (França)

2013 – Alice Munro (Canadá)

2012 – Mo Yan (China)

2011 – Tomas Tranströmer (Suécia)

2010 – Mario Vargas Llosa (Peru)

2009 – Herta Müller (Romênia)

2008 – Jean-Marie Gustave Le Clézio (França)

2007 – Doris Lessing (Grã Bretanha)

2006 – Orhan Pamuk (Turquia)

2005 – Harold Pinter (Inglaterra)

2004 – Elfried Jelinek (Áustria)

2003 – J. M. Coetzee (África do Sul)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.