O maior sonho de Yurizinho foi revelado ao amigo Rodrygo, então jogador do Santos, a uma pergunta no Instagram, ainda em 2018. A resposta: “Cortar cabelo na Copa do Mundo”. Pois a conversa tomou forma agora em 2022, no Catar. Yuri Alexandre Santos, 27 anos, está lá, tratando de alinhar o visual dos “manos” da seleção brasileira. Um corte fade, executado com as várias regulagens da maquininha do barbeiro, parece ser dos preferidos por seu efeito “sombreado”, mas o barbeiro aposta em um “raio” como desenho de mais potencial para virar moda.

Cada detalhe estiloso dos jogadores é captado pelas poderosas lentes das câmeras de TV. E os cortes estão a anos-luz daquele topete que Ronaldo decidiu desenhar no alto da testa na Copa da Coréia do Sul e do Japão, para desviar a atenção da cirurgia de seu joelho direito. Tão medonho que recentemente o ex-jogador pediu desculpas “às mães” pelo corte que a molecada passou a pedir. E agora, vinte anos depois do modelo Cascão do Fenômeno, as opções masculinas se sofisticaram em desenhos espalhados em vídeos pelas redes sociais. O próprio Yurizinho diz que montou o seu, com um “básico de treinamento” para ajudar quem pensa em seguir na profissão. “Quero ajudar mesmo. Falo dos cortes de cabelo, barba, de ética, de responsabilidade, sobre o que se pode conversar, ou não…”

Yurizionho diz que em 2015, com 19 para 20 anos, estava desempregado e ficava na praia, jogando futevôlei. “Como sempre gostei do ambiente da barbearia, comecei a fazer um curso que tinha uma aula por semana. Nos outros dias, ia para o salão de um amigo e ficava olhando, ajudava, lavava cabelo, varria“, conta. Quando conheceu Rodrygo, que era das categorias de base do Santos, já tinha uns dois anos e meio como barbeiro. “Era um grupo que freqüentava os mesmos lugares. A gente ia aos jogos e depois ficava na resenha, ficava só conversando, ou ia dar uma volta, jogar futebol na praia. Eu cortava cabelo, atendia na minha casa. Fomos pegando amizade.”

Com Rodrygo passando a profissional e se mudando para a Europa, Yurizinho morou seis meses em Madri, na Espanha, e mais quatro em São Petersburgo, na Rússia. Na Europa, diz, a profissão de barbeiro é mais valorizada e, por ele, juntaria o trabalho ao “viver viajando”. Mas não sabe se ficaria direto por lá. Depois da Copa, deve voltar ao Brasil e lançar a campanha do “raio do Rodrygo” (quem pedir o corte concorrerá a uma camisa da seleção). É um desenho que pode até se tornar identidade de um grupo…

“Hoje estou aqui, na concentração, dividindo bastidores com as famílias. Imagine para quem é amante de futebol!”, diz Yurizinho. Para ele, o barbeiro, além de profissional, é confidente. No caso dos jogadores, afirma que é importante saber ouvir, para aliviar o estresse das responsabilidades que se tornam gigantescas. “Sempre é um amigo a mais, no ambiente de trabalho. A gente conversa muito. Eles sabem que podem confiar e se abrem no particular. Desabafam.”

Os cortes de cabelo da seleção brasileira são obras de Yurizinho, barbeiro e confidente
ESTILOSOS Descontração e um mosaico de cortes na seleção brasileira (Crédito:NELSON ALMEIDA)

Undercut com risca lateral, razor part, side zero… Esse é o vocabulário voltado às opções de corte de cabelo — que até lembram nomes de manobras de surfe. “Cada jogador tem o seu estilo. É um corte diferente, um risco no cabelo, um na sobrancelha. Tenho alergia a tinta, mas se me pedirem para tingir, ponho máscara e faço. Tudo é parte do pacote. É um cavanhaque, uma barba… Quem tem barba, faz. Quem não tem — ou pensa que tem — faz aquele restinho…”, brinca o barbeiro, que acredita “tirar um pouco o peso da concentração”. Com o ambiente mais leve, os jogadores entram em campo mais tranqüilos. “E com o cabelo na régua”, garante Yurizinho.