Aos poucos os espanhóis começam a cuidar das feridas abertas deixadas pela longa e sanguinária ditadura de Francisco Franco. Na última semana, a Justiça da Espanha decidiu retomar o Paço de Meirás, palácio de verão localizado na região da Galícia que estava nas mãos dos herdeiros do general. Construído entre 1893 e 1907, o local foi adquirido em 1938, durante a Guerra Civil, a partir de doações públicas. Por isso, agora, o tribunal ordenou que fosse transferido para o Estado, que reivindica sua propriedade. A decisão judicial foi mais um passo no movimento que tenta apagar o legado da ditadura fascista. No ano passado, foram exumados e retirados os restos mortais de Franco de um mausoléu público no Vale dos Caídos, onde estavam desde sua morte e eram reverenciados por adoradores do antigo regime.

ATROCIDADES A Espanha elabora uma lei que servirá como reparação dos atos cometidos pelo general Francisco Franco durante os quase 40 anos no poder (Crédito:Divulgação)

Há muito tempo os socialistas que estão no poder na Espanha tentavam exumar os restos mortais de Franco e transformar o Vale dos Caídos, perto de Madri, em um memorial dedicado às 500 mil pessoas que foram mortas durante a guerra, entre 1936 e 1939. Mas não é só isso. O governo da Espanha planeja tornar ilegal glorificar o regime de Franco como parte de uma reforma do código penal do país. A chamada “Lei da Memória Democrática” serviria como uma espécie de reparação moral para garantir que aquilo que aconteceu não se repita jamais.

Com 66 artigos, a lei estabelece, por exemplo, uma multa de até 150 mil euros a quem fizer homenagens ao ditador, cujo legado nacionalista ainda divide a Espanha e assombra o sistema político. Por isso, seus restos mortais foram levados a um cemitério particular em El Pardo, ao norte de Madri, onde foram enterrados ao lado de sua esposa. A juíza Marta Canales disse em sua decisão sobre o palácio Paço de Meirás, que as doações para aquisição não foram destinadas a Franco, mas sim ao Estado. E que, na sequência, a propriedade, avaliada em mais de 5 milhões de euros, teria sido transferida ao general de forma fraudulenta. A família ainda pode recorrer da decisão. De qualquer forma, a vice-primeira-ministra espanhola, Carmen Calvo, saudou a iniciativa. “Hoje a democracia deu um grande passo”, afirmou.