Não é novidade que um dos grandes problemas da humanidade a ser solucionado com urgência no século XXI é a crise climática. Trata-se de algo que não poupa região, população ou credo. Significa um drama para muitas nações, sobretudo, as mais pobres. E é exatamente o que vem acontecendo com o Iraque. A região mais atingida do país é bíblica, o Jardim do Éden, o local onde os criacionistas acreditam que tenha surgido a humanidade, a partir de Adão e Eva. Fica na parte Sul, próxima à fronteira com o Irã. É um local banhado pelos rios Tigre e Eufrates, em pleno crescente fértil, que jamais deveria secar.

Mas é isso que vem acontecendo. São três anos consecutivos de seca severa que já prejudica a subsistência de mais seis mil famílias. Por ser uma nação produtora de petróleo, por analogia, o Iraque poderia ser considerado um agressor ambiental e responsável pelos seus próprios males. “Não necessariamente. O que mais importa são as emissões de gases do efeito estufa, não a exploração do petróleo”, afirma Marcelo Seluchi, meteorologista e especialista em clima. Ele acredita que o desequilíbrio no Jardim do Éden é produto de uma conjuntura ambiental. Mas as adversidades hídricas no país semiárido foram agravadas por diversas complicações políticas.

FOME Para o meteorologista Marcelo Seluchi, o problema climático é global (Crédito: Beto Freitas)

Os pântanos de Hawizeh e Chibayish grandes áreas repletas de vegetação já foram destinos turísticos no passado, além de garantir o sustento à população. Chegaram a ser declarados como patrimônio mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 2016, devido a sua biodiversidade e história. Acontece, no entanto, que a água secou e as poucas plantas que sobreviveram não são razoáveis nem para alimentar o gado.

“Antes, quando vínhamos para os pântanos, havia vegetação, água e paz interior”, disse um morador local à imprensa britânica. Uma organização não-governamental holandesa chamada PAX, que se dedica a ajudar civis em muitos países, acaba de divulgar que, há dois anos, 46% dos pântanos iraquianos sofreram perda total de água. E outros 41% tiveram redução de níveis de água e umidade As circunstâncias no Iraque estão complicadas a ponto de outras pastas da ONU focarem seus olhares ao tema. A FAO pontua que os pântanos fazem parte do conjunto de locais que mais sofrem com as mudanças climáticas em todo o mundo. “Os níveis de água diminuíram sem precedentes”, comunicou o órgão. Segundo a Unesco, os pântanos garantem a subsistência de inúmeras pessoas e vida a muitas espécies de aves aquáticas migratórias. Agora, porém, o que há? Zonas desérticas, animais ameaçados e a presença do flagelo da fome.