SOBREVIVÊNCIA Amanaci recebe cuidados em suas patas: corpo sofreu queimaduras de terceiro e quarto grau nas queimadas do Pantanal em 2020 (Crédito:Divulgação)

É cada vez mais urgente a necessidade de criar projetos que ajudem na salvação e preservação das onças-pintadas. O animal que é símbolo da fauna em regiões brasileiras como o Pantanal aparece na lista de animais ameaçados de extinção na categoria de vulnerável, o que significa que o número de espécimes diminui a cada ano que passa por causa dos incêndios florestais, da caça ilegal e do abate por fazendeiros. Há organizações que tentam proteger, acolher e salvar os bichos indefesos, tentando impedir que a situação se torne mais desastrosa. É o caso da NEX NoExtinction (Não extinção, em português). Com mais de duas décadas de atuação, a instituição já cuidou de mais de 70 onças – resgatadas de queimadas, que estavam sendo mantidas em cativeiro e até mesmo vítimas de traficantes. Hoje, a fazenda de 200 hectares conta com 25 onças e 19 recintos criados sob medida para cada animal. “É um propósito. Nós abdicamos de tudo para viver por esses animais”, diz Daniela Gianni, coordenadora de projetos e atividades do NEX. Segundo ela, o instituto se mantém com recursos próprios e parcerias de empresas, como frigoríficos que doam os alimentos – são mais de uma tonelada e meia de carne por mês.

RENASCIMENTO Merlín recebeu um tiro na cabeça, sobreviveu, mas perdeu um olho e ficou cego do outro (Crédito:Divulgação)

Na tentativa de aumentar o número de espécimes, o Parque Nacional do Iguaçu tem em funcionamento o projeto Onças do Iguaçu, que é o maior esforço de monitoramento de onças do mundo. Chamado de corredor verde, que abriga o território brasileiro e argentino, o estudo preserva uma área de 600 mil hectares. Cerca de 1/3 dos animais sobreviventes da Mata Atlântica estão sendo monitorados e protegidos pelo projeto. Além de fazer pesquisas com as pintadas, há um estudo com as comunidades locais sobre o comportamento das onças evitando o assassinato do mamífero. “É importante dizer que, diferente do que mostra a novela das nove, Pantanal, as pessoas não devem chegar perto delas, não devem agachar na frente delas, ou tirar fotos. Elas são animais predadores e se sentirem ameaçadas, vão atacar. Caso contrário, elas vão fugir para a floresta para não ter contato com o humano”, explica Yara Barros, coordenadora Executiva do Projeto Onças do Iguaçu. Outro plano audacioso que está saindo do papel é o de formar um dos maiores corredores ambiental do mundo ao longo dos três mil quilômetros do rio Araguaia, passando pelos Estados de Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Pará. A área total será de 13 milhões de hectares, onde esses animais poderão circular livremente, entre os dois maiores biomas brasileiros: a Amazônia e o Cerrado. A parceria é firmada entre o Instituto Onça Pintada e a JBS, maior produtora de proteína animal do planeta.

Sobrevivem 55 mil na Amazônia
restam 600 na Mata Atlântica e na Caatinga
1000 no cerrado
resistem 10 mil no Pantanal

O instituto NEX é lar atualmente da Marruá, onça do pantanal que estava sendo muito bem criada por fazendeiros, mas que tinham medo que outros moradores da região pudessem acabar matando o animal; do Merlín, que perdeu um olho e ficou cego do outro após levar um tiro na cabeça; Sansão, a onça mais velha do mundo com 22 anos; e a sobrevivente Amanaci que foi resgatada das queimadas que sufocaram o pantanal em 2020. Com queimaduras de terceiro e quarto grau, o animal chegou na fazenda com as patas em carne viva e uma autorização para realizar a eutanásia. “Nunca vi um animal com tanta dor na vida. Ela que é silvestre e predadora se entregou totalmente para ser salva”, disse Daniela. Amanaci está bem, mas teve sequelas e não pode ser liberada na natureza por ter perdido características fundamentais para sua sobrevivência.

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Apesar dos projetos estarem em andamento, é preocupante o número de onças remanescentes no Brasil “Estima-se que haja cerca de 65 mil – 55 mil na Amazônia, 10 mil no Pantanal, 1000 no cerrado, 300 na Mata Atlântica e 300 na Caatinga. Nos Pampas, o animal já foi extinto por completo”, afirma Ronaldo Morato, chefe do CENAP (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos carnívoros) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A redução ocorre principalmente pela retaliação de fazendeiros que insistem em perseguir e abater os bichos silvestres por terem matado seus bois. Essa é a razão da importância de conscientizar a população sobre o comportamento desses animais. Avalia-se que as onças perderam mais de 50% de seu habitat natural, o que as fazem procurar comida em outras regiões. A novela das nove, Pantanal, deu luz ao problema. Desde que o folhetim começou a ser exibido houve uma alta de 36% nas buscas pelo animal na internet e mais de 270% por “onde fica o Pantanal”. É esperado que haja também o aumento de doações e aportes financeiros de governos para que mais projetos possam sair do papel e salvar essa espécie símbolo do Brasil.