20/08/2021 - 16:20
A notícia de que, a partir desta sexta-feira (20), a Volkswagen interrompe a distribuição da sua famosa salsicha de fabricação própria Currywurst (também conhecida como a salsicha típica de Berlim) para seus funcionários em refeitórios e implanta um cardápio 100% vegetariano, em Wolfsburg, na Alemanha, explodiu no mundo todo.
E isso é apenas o início de uma brutal transformação, cuja meta é não servir mais carne de produção industrial aos trabalhadores da empresa até 2025. Tudo em nome da redução de emissão de gases do efeito estufa com a eliminação da proteína animal como alimento.
Cada região tem sua realidade quanto à produção de alimentos, mas é fato que tais atitudes acabam influenciando nações em todo o globo. No Brasil, por exemplo, muitos acreditam que deixar de comer carne é parte da solução desse problema ambiental. O que motiva a decisão da gigante automobilística e outras iniciativas semelhantes, entretanto, não encontra unanimidade na comunidade científica nem em documentos das Nações Unidas sobre o debate o tema.
“Acredito, sim, no aquecimento global e que, sim, o ser humano é responsável por isso. No entanto, a produção de alimentos mundial é responsável por apenas 26% das emissões dos gases do efeito estufa no mundo. O restante, 74%, vem principalmente das indústrias, dos meios de transporte e da geração de energia (queima de combustível fóssil)”, garante Sérgio Pflanzer, professor Doutor-MS3 na Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp, ao citar dados da FAO (Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas).
“Por exemplo, no Brasil, algumas reportagens mencionam que pouco mais de 70% das emissões nacionais viriam da atividade rural, não está certo. Esse número é resultante da soma do desmatamento (cerca de 44%) mais a agropecuária (cerca de 28%). E juntar ‘desmatamento + agropecuária’, quase como sinônimos, é descabido. Desmatamento ilegal (com ou sem queimada) é crime e não pode ser chamado de atividade rural”, alerta Sérgio.
E tem mais: a produção de carne pode fazer parte da solução no combate às mudanças climáticas com a pecuária regenerativa. “Sempre que emitimos CO2 queimando combustível fóssil, esse CO2 fica quase que para sempre aquecendo o planeta. Já na produção de bovinos, se o rebanho se mantem o mesmo, ou aumenta um pouco, mas se torna mais produtivo e sustentável (pecuária x lavoura x floresta ou pecuária regenerativa), ele não emite mais metano, pelo contrário, ele passa a sequestrar, além do CO2 do ciclo natural, parte do CO2 que veio do combustível fóssil, funcionando como um sumidouro de carbono”, explica Pflanzer.
Então, deixar de comer carne, seja branca ou vermelha, não vai melhorar a nossa pegada ambiental em relação ao aquecimento global? “Temos que organizar nosso estilo de vida para consumir menos (de tudo), consumir local, desperdiçar menos e reciclar mais. Isso, sim, pode ajudar”, conclui o pesquisador brasileiro.