Após recentes escavações em um cemitério Viking, no norte da Europa, cientistas descobriram traços de varíola em 11 esqueletos desenterrados, fato que constata a presença da doença no continente há pelo menos 1400 anos — mil anos antes do que pensava a comunidade médica.

O estudo publicado na revista “Science” ressalta que o material coletado possui uma taxa menor de genes do que a doença moderna, erradicada em 1980. Na prática, isso significa que ele seria menos letal, o que reforça a possibilidade de mutação ao longo dos anos. O dado contraria a lógica evolutiva das doenças, visto que a maioria dos vírus perde a letalidade devido à criação de anticorpos nos hospedeiros e o advento das vacinas e outros tratamentos médicos. A estimativa anterior datava a presença da varíola no século 12 (por volta do ano 1200), com o pico de contágio do vírus registrado no século 20, quando a doença matou mais de 300 milhões de pessoas. Especialistas que participaram da pesquisa na Universidade de Cambridge, no Reino Unido, acreditam que, assim como a Covid-19, a varíola teve origem animal e percorreu um longo caminho evolutivo. Até onde a ciência sabe, seu contágio sempre se deu de pessoa para pessoa por meio de gotículas infecciosas.

“A varíola é uma doença muito antiga, talvez seja até anterior aos Vikings” Edimilson Migowski, professor da UFRJ (Crédito:Divulgação)

Ganho da ciência

Caso a hipótese dos especialistas de Cambridge seja comprovada, a pesquisa sobre a doença milenar pode pavimentar o caminho para entender melhor o funcionamento de vírus atuais. “Fazer a análise do percurso desses vírus ao longo dos séculos é interessante para entender não apenas o comportamento deles, mas para tentar aplicar essa experiência a vírus mais recentes, como o coronavírus”, afirma Edimilson Migowski, professor de Doenças Infecciosas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).