A série de televisão “Downton Abbey”, em seis temporadas, entre 2010 e 2015, tornou-se um fenômeno mundial: acumulou prêmios e bateu recordes de audiência. Um êxito tão grande que, a pedido do público, a produtora britânica Carnival leva agora a trama ao cinema, com distribuição da Universal. O longa-metragem de 2 horas estreou em 20 de setembro e faturou US$ 154 milhões, para um orçamento de US$ 20 milhões. A estreia no Brasil promete aumentar a bilheteria.

Como explicar o sucesso de um novelão ambientado em um castelo jacobita no interior da Inglaterra entre 1912 e 1926, infestado de nobres decadentes e empregados ainda mais esnobes que seus patrões? Podem ser três as razões. Para começar, o roteiro. Foi escrito pelo ator e produtor Julian Fellowes, barão de West Stafford e membro do Parlamento — um conhecedor do tema, portanto. Inspirado na própria experiência, narra como a família imaginária Crawley, de pequena nobreza, reage à mudança dos tempos, como o fim do Império Britânico e a decadência da aristocracia rural. “Meu pai nasceu em 1912”, diz Fellowes. “Ainda é uma história recente.” É dele o roteiro do filme “Assassinato em Gosford Park” (2001), de Robert Altman, vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Original. Como “Downton Abbey”, o filme retratava os costumes aristocráticos e era estrelado por Maggie Smith.

JANTAR O casal real Jorge V e a rainha Mary é recebido pela família Crawley em uma refeição a cargo dos serviçais do castelo: orgulho dos lacaios sublevados (Crédito:Jaap Buitendijk / Focus Features)

A série e o filme, em segundo lugar, impressionam pelo realismo da ambientação e figurinos pela construção dramática. As principais sequências foram rodadas em locações reais, em especial o Highclere Castle, em Yorkshire, que se tornou atração. Atores de primeira linha sopraram densidade psicológica aos personagens.

O terceiro motivo da fama é a crítica social embutida nas situações vividas no castelo. Enquanto os nobres enfrentam dilemas morais e questões de herança nos andares superiores, os criados lutam nos porões para preservar o status quo. Senhores e vassalos se devotam a manter as coisas no seu “devido lugar”, protegido de mudanças que se revelam inevitáveis. Assim, os criados formam um grupo de fofoqueiros, intrigantes e comandantes da situação.

Noite no castelo

O enredo do filme transcorre em 1927. Quem lidera a família é lady Anne. Seus pais adotam hábitos pacatos, entre recepções e passeios. A avó, Violet (Maggie Smith), continua a controlar senhores e servos, mas espera que Anne tome seu lugar e se torne “a velha implicante que mantém todos na linha”. Mas um evento rompe o sossego: o casal real anuncia que irá visitar Yorkshire, passar a noite no castelo, participar de uma parada militar e de um baile no castelo vizinho. A família se agita e os empregados, felizes por recepcionar os soberanos. Até o antigo mordomo, Charles Carson, é arrancado da aposentadoria para ajudar na organização do jantar. Mas a criadagem entra em polvorosa quando é substituída pela do palácio de Buckingham. O chef francês Courbet e o exército de lacaios londrinos de nariz empinado tomam posse do local. A solução é narcotizar o chef e dar sumiço nos rivais.

O filme deixa uma lição irônica: um súdito inglês só é capaz de planejar uma revolução se for para melhor servir a coroa. E o faz para aplauso do rei e de lady Anne, que exclama: “Deus é monarquista!” Estreia em 24/10.

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