Grupos sinti e roma de toda a Europa comemoram neste 16 de maio a resistência contra o nazismo e o genocídio. Eles lutam contra o anticiganismo ainda hoje.Mano Höllenreiner viu seu pai, seus tios e outros membros dos grupos ciganos sinti e roma se unirem para lutar contra a organização paramilitar nazista Schutzstaffel (SS) em 1944, quando estavam no campo de concentração e extermínio Auschwitz-Birkenau.
Um ano antes, eles haviam sido deportados com suas famílias de Munique para lá, onde sofriam com fome, sede, frio, doenças, violência brutal e condições higiênicas insuportáveis no chamado "campo dos ciganos".
Höllenreiner tinha apenas 10 anos de idade em 1944. Ele lembra que os homens de sua família "não tinham medo", pois haviam sido militares.
No campo, todos tinham diante dos olhos as chamas das chaminés dos crematórios e no nariz o cheiro terrível de quando as pessoas eram queimadas após serem assassinadas nas câmaras de gás.
Vários sobreviventes resistiram ao transporte para as câmaras de gás. Em um desses episódios, os prisioneiros receberam um aviso sobre uma grande operação da SS e decidiram se armar com pedras, paus, pás e qualquer outra coisa que pudessem contrabandear do trabalho forçado para as barracas.
Prontos para lutar, eles se entrincheiraram atrás da entrada e se recusaram a sair.
O primo de Mano, Hugo Höllenreiner (1933-2015), disse mais tarde à autora Anja Tuckermann: "A SS pensou que, se eles entrassem, poderiam atirar em alguns, mas que os nossos também matariam alguns deles". Os guardas acabaram indo embora, ao perceberam que a tarefa de transporte para as câmaras de gás não era mais tão simples.
"As mulheres são as lutadoras mais aguerridas"
Muitos prisioneiros que estavam aptos para o trabalho foram transferidos para outros campos de concentração. E os primos Hugo e Mano Höllenreiner, com seus pais e irmãos, escaparam de serem assassinados em Auschwitz.
Mas cerca de 4.300 prisioneiros restantes – crianças, mães, idosos e doentes – foram colocados em caminhões na noite de 2 para 3 de agosto de 1944. Elas resistiam com todas as suas forças, observa um prisioneiro polonês. "As mulheres são as lutadoras mais aguerridas – são mais jovens e mais fortes – e defendem seus filhos", afirma.
A SS arrastou brutalmente as crianças pelas pernas e chutou os idosos. Todos eles foram assassinados nas câmaras de gás. Naquela mesma noite, de acordo com o observador, uma fumaça preta pairava sobre o campo.
A resistência dos ciganos sinti e roma em Auschwitz não foi pesquisada em grande escala, segundo a historiadora Karola Fings, da Universidade de Heidelberg. Durante muito tempo, ninguém se interessou pelo assunto. Ela é editora da Enciclopédia do Genocídio Nazista dos Sinti e Roma na Europa. O objetivo é tornar o conhecimento existente disponível online e estimular novas pesquisas.
Os pesados relatos dos sobreviventes e de um prisioneiro polonês não podem ser claramente datados, segundo Fings. No entanto, eles mostram a luta pela sobrevivência e a busca conjunta por estratégias. "Como podemos sair daqui vivos, como podemos proteger nossos entes queridos?", eram as questões mais importantes. Em vista do horror em Birkenau, é admirável como as pessoas tenham tentado sobreviver juntas e em solidariedade.
Cartas para Hitler
As famílias dos ciganos em Auschwitz não eram divididas em blocos para homens e mulheres, como os outros prisioneiros. Isso também tem a ver com sua resistência anterior à perseguição, de acordo com Fings. "Quando as famílias sinti e roma são separadas, há uma resistência feroz."
Já em 1938, quando centenas de homens foram deportados para campos de concentração, as mulheres, em especial, protestaram. "Esposas, mães, irmãs e filhas viajaram para Berlim e fizeram campanha pela libertação de seus parentes homens. Muitas vezes, elas corriam o risco de, elas próprias, acabarem sendo deportadas para campos de concentração por causa do seu protesto."
Advogados foram acionados e cartas de protesto foram enviadas a todas as instâncias, incluindo ao ditador Adolf Hitler.
Resistência continua
Após a Segunda Guerra Mundial, a perseguição racista e o genocídio nazista dos sinti e roma são negados. Os perpetradores continuam a evoluir na carreira e a assediar os membros da minoria, na polícia e como peritos em processos de indenização. "Foi uma luta terrível para os sobreviventes", diz a historiadora Fings. Mesmo assim, a resistência se formava.
Heinz Strauss sobreviveu aos campos de concentração de Auschwitz e Buchenwald e perdeu muitos parentes. Por medo, ele fez tudo o que pôde para evitar ser reconhecido como um cigano, diz seu filho Daniel. Ele não permitia que seus filhos falassem romani, a língua da minoria, em público.
No entanto, dois irmãos mais velhos seus e, mais tarde, ele mesmo também se envolveram no movimento pelos direitos civis, e com sucesso. "Conseguimos o reconhecimento como minoria nacional, conseguimos o reconhecimento do genocídio", afirma. Daniel é agora presidente da Associação dos Sinti e Roma Alemães do estado de Baden-Württemberg.
"Celebramos a sobrevivência"
A associação convida especialmente os jovens para celebrar o Dia da Resistência dos Ciganos. Eles debatem no evento biografias como a da sobrevivente de Auschwitz, Zilli Schmidt (1924-2022), que lutou contra o racismo e a perseguição durante toda a sua vida.
Em 2004, o Conselho Central dos Sinti e Roma Alemães estabeleceu o dia 16 de maio como o Dia da Resistência, com um evento comemorativo no Ministério das Relações Exteriores da Alemanha. Na época, o presidente alemão e vários ministros elogiaram a grande coragem da minoria.
Esse dia é importante para os sinti e roma, diz Daniel Strauss. "Celebramos a sobrevivência, a resistência, a recusa em deixar que façam o que quiser contigo."
"Três a quatro turmas de escola visitam o centro cultural RomnoKher toda semana", afirma. Há cursos de treinamento de professores e workshops para os alunos. "Atualmente, estamos montando um instituto de ensino em conjunto com a Associação Federal de Sinti e Roma". Ela oferecerá cursos de idiomas em todo o país. "Isso também é resistência”, diz.
O que Berlim faz pelos sinti e roma?
O novo governo alemão se compromete a combater o antissemitismo e a proteger a vida judaica. No entanto, os ciganos sinti e os roma não são mencionados no acordo de coalizão, nem a luta contra o anticiganismo. "Isso preocupa", disse Mehmet Daimagüler, pouco antes da mudança de governo.
Até então, ele havia defendido os direitos dos sinti e roma na Alemanha exercendo o cargo de comissário federal contra o anticiganismo. Muitas medidas – elaboradas pela Comissão Independente contra o Anticiganismo – foram adotadas durante seu mandato, mas agora precisam ser implementadas.
"O comissário era uma ponte importante entre o governo e os membros da minoria", disse a ativista dos direitos dos ciganos Renata Conkova. Abolir o cargo seria um erro, na avaliação dela.
Ela vem da Eslováquia e trabalha para a associação RomnoKher no estado da Turíngia, no leste da Alemanha, cuidando de famílias ciganas imigrantes, principalmente da Ucrânia. Como muitos ciganos, seu avô lutou na resistência contra os alemães nos países invadidos pela Alemanha nazista e foi morto em combate.
Sua neta vivencia na Alemanha o que os estudos têm mostrado há anos. Apesar de muito progresso e promessas de políticos, as pessoas de minorias são discriminadas – em creches e escolas, pelas autoridades, ao procurar acomodação e no local de trabalho. Os problemas só podem ser resolvidos em conjunto com políticos e autoridades.
Haverá outro comissário anticiganismo? A ministra Karin Prien, do partido conservador União Democrata Cristã (CDU) assumiu o Ministério da Família, Mulheres, Idosos e Juventude, que era o responsável anteriormente, e acrescentado da área de Educação. Em resposta a uma pergunta da DW sobre uma possível nomeação para o cargo, uma porta-voz disse que a proteção das minorias é muito importante para a ministra. "O tópico também deverá ser abrangido pela pasta no futuro."
A ativista Renata Conkova está preocupada com as tendências racistas e de ultradireita na Alemanha. Ela se lembra da época da perseguição. "Não vivemos mais na década de 40. Temos nosso orgulho, nossa cultura, nossas tradições. Não seremos mais mortos ou enviados para câmaras de gás. Nós lutamos".