Neste mês em que se rememora a ocorrência do golpe de 1964, defensores da ditadura saem das sombras e repetem declarações torpes associadas às torturas praticadas por militares contra os opositores do regime. O presidente Bolsonaro aproveitou para elogiar mais uma vez o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um criminoso sanguinário que se deleitava com o sofrimento alheio, enquanto seu filho 03, o deputado Eduardo, ironizou as agressões sofridas pela jornalista Miriam Leitão em 1972 em um quartel do Exército em Vila Velha. Hoje, em mais um lance do festival de cretinices que assola a Nação, foi a vez do vice-presidente, Hamilton Mourão, fazer chacota com as vítimas do regime militar e ridicularizar os esforços de investigação da violência cometida nos porões da ditadura. “Apurar o quê? Os caras já morreram tudo. Vai trazer os caras do túmulo de volta?”, disse Mourão.

Para o governo Bolsonaro está tudo bem, a perseguição, a tortura e a morte de desafetos durante os anos de chumbo ficaram no passado e não merecem atenção, mas revisão, sempre com o objetivo de aliviar a barra de torturadores. Na verdade, quanto mais asquerosa foi a participação do sujeito na engrenagem repressiva, mais elogios ele recebe do presidente e de seus filhos. Na guerra doentia contra a esquerda, o que se preconiza é o silêncio e a morte do inimigo e tudo vale para que essa meta seja atingida. Esse é um governo que elogia o pau de arara e o choque elétrico e passa pano para os verdugos. Na sua imbecilidade infinita, Bolsonaro acha que a perseguição aos opositores do regime militar foi justa e se pudesse ele repetiria a história.

São chocantes as gravações, divulgadas nos últimos dias, de depoimentos secretos de integrantes do Superior Tribunal Militar reconhecendo a prática de tortura no período. Casos de violência extrema são relatados e os próprios militares que se manifestaram na época demonstraram incômodo com os excessos do regime. Mas o governo atual, numa completa inversão de valores, coloca a culpa nos torturados, minimiza a selvageria da ditadura e tenta impor uma narrativa deturpada de que os esquerdistas tiveram o que mereceram. É uma forma de impor a mentira como método e achincalhar a memória de gente que lutou contra um sistema cruel e desalmado. No final das contas, para Bolsonaro e seus seguidores, a tortura se justifica.