Muitos ainda acreditam que, dada a total falta de preparo e de vocação para o cargo, o presidente Jair Bolsonaro não se encontre com o Papai Noel no Palácio do Planalto. Pode ser. Interlocutores que conversam frequentemente com a cúpula militar — os da ativa, aqueles que realmente contam — asseguram que há uma enorme insatisfação com o capitão e seus herdeiros, tanto que não seria necessária sequer uma delação premiada para motivar um processo de impeachment. Por essa ótica, a persistirem os números negativos na economia, o governo será breve. Mas, teorias conspiratórias à parte, o certo é que cinco meses depois da posse de Bolsonaro, o que efetivamente movimenta a agenda dos atores políticos é a sucessão presidencial. E o tabuleiro montado para esse xadrez é a Reforma da Previdência.

Na ponta-esquerda, o PT insiste em construir uma narrativa que o coloque como vítima das elites preconceituosas, recusa um mea-culpa e aposta no Lula Livre para tentar a hegemonia na construção de uma candidatura. Como fez ao longo de sua história até 2002, o partido se recusa a participar de qualquer movimento que aponte para uma solução capaz de aglutinar e unificar um bloco não extremista. Em 1985, se recusou a participar do Colégio Eleitoral que pôs fim a ditadura, agora se coloca quase como observador distante da reforma. Assim, facilita a vida da extrema-direita e faz Bolsonaro sorrir, pois para manter-se vivo no jogo, basta a ele insistir na bobagem do perigo vermelho e apontar o dedo para Lula. Nesse sentido, pouco importam
as retaliações que a Reforma da Previdência venha a sofrer no Congresso.

Na Câmara e no Senado, porém, o jogo é mais profissional e os grupos de interesse mostram suas forças. E, na queda de braço de quem ganha e quem perde com as mudanças na Previdência é que vai se construindo uma alternativa presidencial mais ao centro para 2022 — ou antes. Algo que não foi possível em 2018, quando o tabuleiro era a Lava Jato. Agora, Rodrigo Maia, João Doria, ACM Neto e outros, em nome da reforma, buscam reunir centro-direita e centro-esquerda em um bloco. Claro, quem vai pagar a conta dos acordos é o assalariado, o cidadão que já perdeu os direitos trabalhistas e na Previdência perderá mais, pois está sub-representado e os sindicatos, todos moribundos. Ganharão o mercado, os bancos e as corporações de servidores públicos que já têm privilégios e força política no Parlamento. Enfim, a reforma deve sair. Mas, com certeza, retrocederemos algumas décadas como sociedade democrática.

No perde e ganha com as mudanças na Previdência é que vai se construindo uma alternativa presidencial

 

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